terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Temer agrava crise social


* Por Frei Betto


Depois de uma década em queda, a pobreza se ampliou no país desde a recessão iniciada em 2014. De acordo com levantamento do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), pouco mais de 9 milhões de brasileiros foram empurrados para baixo da linha de pobreza em 2015 e 2016, reflexo da deterioração do emprego e da renda. Desses, 5,4 milhões tornaram-se extremamente pobres (ou miseráveis).

São dados da “Síntese de Indicadores Sociais”, divulgada em dezembro pelo IBGE. De acordo com o Banco Mundial e o IBGE, vive na extrema pobreza quem ganha US$ 1,90 por dia (R$ 133,72 mensais); e na pobreza moderada quem recebe US$ 5,50 por dia (R$ 387,07 mensais).

Em 2016, 52,2 milhões de brasileiros(as) viviam abaixo da linha de pobreza, ou 25,4% da população. No caso da pobreza extrema, eram 13,35 milhões de pessoas, 6,5% da população.

Pelos cálculos do Iets, de 2004 a 2014 o Brasil retirou quase 40 milhões de pessoas da pobreza. Nem mesmo a crise mundial de 2008, que provocou pequena e rápida recessão no país, foi capaz de interromper o processo de redução da pobreza. “O retrocesso ocorre de 2014 para 2015. É quando a crise [brasileira] começa a afetar a renda, provocar desemprego e gerar informalidade. Os empregos perdidos na construção civil, por exemplo, afetaram muitos trabalhadores”, disse o pesquisador do Iets.

Francisco Ferreira, economista do Banco Mundial, chegou a conclusões parecidas. A parcela da população em situação de extrema pobreza cresceu de 4,1%, em 2014, para 6,5% em 2016. Em entrevista ao jornal Valor, José Graziano, diretor-geral da FAO, braço da ONU para alimentação e agricultura, declarou que mais de 7 milhões de brasileiros, mesmo vivendo em situação de extrema pobreza, não recebem nenhum tipo de assistência social. O país, advertiu, pode voltar a integrar o Mapa da Fome Mundial, que a FAO divulga desde 1990.

Em nosso país, todo dia são jogados no lixo 41 mil toneladas de alimentos, suficientes para alimentar 25 milhões de pessoas! Um quarto desse desperdício é culpa do consumidor final. Por isso, é tão baixo o índice de reaproveitamento feito pelos bancos de alimentos: apenas 150 toneladas por mês.

Nossas escolas insistem em ignorar a educação nutricional, e o governo não delimita a propaganda e venda de produtos que prejudicam a saúde, em especial a das crianças. A morte não está embutida apenas em maços de cigarros. Também em refrigerantes, achocolatados, enlatados e embutidos. Sutil, ela se inicia por nos corroer por dentro, na forma de perda de vitaminas, obesidade mórbida, debilitação dos ossos, câncer etc.

No mundo, a FAO calcula que, todos os dias, 1/3 dos alimentos vai para o lixo, o que equivale a 3,5 milhões de toneladas.

Esses dados devem pesar, neste ano de 2018, em nossa consciência de eleitores.


* Frei Betto é escritor, autor de “O que a vida me ensinou” (Saraiva), entre outros livros.




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