sábado, 6 de janeiro de 2018

A mulher que não sentia prazer



* Por Celamar Maione



Renatinha esperava a amiga na pizzaria com ansiedade. As duas, que sempre foram muito unidas, já não se viam há dois anos, desde que Renatinha fora estudar nos Estados Unidos. De volta, a primeira coisa que fez foi ligar para Mariuska.
-Uska, sou eu, Renata. Estou de volta. Precisamos conversar. Tenho muitas novidades.
-Natinha, que saudade! Eu também. Me separei. Estou divorciada.

Combinaram o encontro na pizzaria que iam nos tempos da faculdade. Quando Mariuska chegou, os olhos de Renatinha ficaram marejados e ela mordeu os lábios de emoção.
-Uska, que saudade! Tentei falar com você por e-mail, mas era tanta coisa, tive que estudar tanto, que não dava nem para computador! E você sabe que eu não gosto desse mundinho virtual.
-Não tem problema. Vamos colocar nosso papo em dia aos poucos.
-Mas, me diga Uska, você se separou do Rodolfo? O que aconteceu?
-Sexo.
-Sexo?!!! Como assim, sexo? Ele queria todo dia?
-Não. Muito ruim de cama. Ficava cada vez pior.
-Você não viu isso no namoro?
-No namoro eu estava apaixonada. Depois do casamento, a gente avalia com mais rigor e..
-E...
-Muito ruim de cama. Nos últimos três meses de casamento, então, transava, virava para o lado e dormia. Não queria saber se eu tinha gozado ou não. Eu nunca gozei com ele para ser sincera.
-Ahhhhh....e vocês não conversaram sobre o assunto?
-Tentei. Mas quando acaba o tesão, acaba tudo!
-Eu sempre acreditei nisso também. Relação sem sexo e sem tesão não sobrevive mesmo. Esse negócio de dizer que existe amor sem sexo, só se for de pai e mãe...
-E lhe digo mais – completou Mariuska – ele podia se vestir de batman que não conseguia mais me excitar. O tesão acabou! Morreu!
As duas riram e nem viram a hora passar. Renatinha falou primeiro:
-Mulher, quase meia-noite. Amanhã tenho muito o que fazer. Já que você está solteira, vou lhe apresentar o Alfred, um amigo dos states que está passando férias aqui. Quem sabe você não se apaixona e... o sexo com ele pode ser gostoso. Ele é um garanhão.
Mariuska ficou excitada. Nunca havia transado com um estrangeiro. Quem sabe? Combinaram um novo encontro. Dessa vez com a presença de Alfred. A semana passou rápida. No sábado, se encontraram na balada. Renatinha levou Alfred. Apresentou a amiga. Os dois conversaram a noite toda sobre vários assuntos, enquanto Renatinha dançava com outra amiga. Mariuska sentiu atração por Alfred. Os dois tinham algo em comum: haviam se separado recentemente. Durante a conversa, as afinidades cresciam. Na despedida, trocaram telefone.
No dia seguinte, saíram sozinhos. Duas horas de conversa e foram parar num motel. Uma hora depois, Mariuska estava decepcionada. Não conseguiu gozar com Alfred. Disfarçou para não desapontar o americano e pediu para ir embora. Disse que estava passando mal, com dor de cabeça e muito enjoada. Se despediram secamente. Assim que chegou em casa, jogou a bolsa em cima da cama e ligou para a amiga.
-Natinha, sou eu! Foi um fracasso, amiga. Não gostei do cara. Não consegui gozar com ele.
-Jura?! Mas me diziam que ele era bom de cama! Faziam a maior propaganda do Alfred nos states.
-Uma porcaria. Muito apressado. Não gosta de preliminares. Um horror!
-Poxa, fiquei chateada. Eu que apresentei o cara.
-Mandou mal, hein? O cara parece galo depois da briga, rouco, rouco.

Terminaram a conversa ás gargalhadas. Antes de voltar para os states, Alfred ligou para Mariuska três vezes. Foi rejeitado. Mariuska resolveu desencanar. Não queria forçar um encontro. Preferia primeiro se apaixonar. Acreditava que, assim acontecendo naturalmente, tinha chance de ser feliz no sexo. Renatinha ainda tentou apresentar novos amigos a Mariuska. Mariuska recusou. As duas retomaram a antiga amizade. Saíam juntas nos finais de semana e durante a semana se ligavam para contar as novidades.
Nesse tempo, Mariuska conheceu Luis Norberto, o novo colega de trabalho. Bonito, olhos claros, alto, simpático e sedutor. Amante á moda antiga. Dava sempre a vez às mulheres, tratava bem todas as colegas de trabalho. Era amigo, atencioso, dedicado e ainda por cima, inteligente. Luis Norberto passou a ser paquerado pelas colegas de escritório, mas foi para Mariuska que dedicou mais atenção. Conversavam na hora do almoço e nos intervalos para o cafezinho. Ele ensinava o trabalho a Mariuska com muita paciência. Tornaram-se íntimos, para inveja das outras, que faziam muxoxo quando Mariuska pegava uma carona com Luis Norberto.
Renatinha logo tomou conhecimento da paixão da amiga. Luis Norberto e Mariuska começaram a namorar. Com duas semanas de relacionamento, foram para a cama. O sexo foi frio, sem graça. Mariuska não gozou. “A culpa deve ser do pênis de Luis Norberto, pequeno demais”, pensou Mariuska. Com sexo sem satisfação, o namoro durou pouco. Logo, Mariuska se desinteressou. Assim foi com os três outros namorados. Se tornou uma mullher insatisfeita e amarga. Depois do divórcio, não conseguia se satisfazer sexualmente com homem nenhum. Procurou Renatinha para desabafar:
-Acho que o defeito é meu.
-Então, por que não vai ao ginecologista? Ele pode dar um remédio...
-Remédio? Remédio para gozar?! Não existe, Natinha. Transo como se estivesse indo ao banheiro fazer necessidade e....e....O que foi Natinha?
Renatinha olhou para a amiga, enternecida. Se aproximou de Mariuska:
-Você ainda não percebeu nada, Uska?
-Percebeu o quê?
-Eu não acredito que você seja tão desligada. Fala de homem e eu nunca falo de homem. Não se toca? Não percebe?

Mariuska tentava entender o que a amiga dizia . Olhava para ela, pensava, enquanto Renatinha se aproximava. Quando Renatinha colocou as mãos nos cabelos de Mariuska, ela se levantou, rápido.
-Vou me embora. O papo está bom, mas tenho que ir.
Renatinha segurou nas mãos da amiga e, com lágrimas nos olhos, disse, com emoção na voz:
-Não vai embora, precisamos conversar. Eu sempre fui apaixonada por você. Quando você se casou, foi a maior decepção. Vem, posso a fazer feliz, dar o que não encontrou nos homens...e...

Carente, Mariuska se comoveu ao ver o choro. Passou as mãos pelos cabelos da outra. Ficaram se acariciando horas. O sangue foi subindo pelo corpo de Mariuska. Ela se rendeu aos carinhos da amiga e se beijaram com paixão. Mariuska amanheceu ao lado de Renatinha. Acordou com um sorriso nos lábios. “Finalmente” – pensou – “encontrara a tão sonhada felicidade nos braços da melhor amiga”.


* Radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da  Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador , mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos. É autora do livro de contos “Só as feias são fieis” (Editora Multifoco).





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