quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Tranco fantasmas no meu corpo


* Por José Geraldo Neres


Os minutos saem de minha pele, se perdem pela casa. Vozes no meu corpo: passam por uma encruzilhada de caminhos, movem-se, movem-se. Ela não conhece o tempo. O espelho não se lembra de sua face. Caminha. Sem testemunhas. Caminha. Não sabe misturar o barro, procurar nomes e milagres. Hoje ele mudará de pele e dormirá sozinho.

A morte caminha nos olhos dos Outros, dizem que seus olhos são paredes brancas. De herança ganhei um relógio, não de metal, mas de carne. Pedi paciência e ele responde: a ferida está aberta, caminhe. Os dois ponteiros gostam de serpentes. Caminhe. Ela nunca me desafia — a morte —, arrasta um colar de nomes, gosta da inocência destes olhos cegos, nunca repete um nome.

Á quarta parede a se formar dentro do meu corpo. Imagem dentro da imagem dentro do relógio. A casa, diante do espelho, sorri.

Realiza um estranho ritual, retira do espelho palavras e mais palavras. Tenta compor nomes. Horas e horas passa frente ao espelho. Sequer um pequeno nome ela consegue formar, continua o ritual, palavras e mais palavras. A ferida está aberta. Eles nunca caminham de mãos dadas.


* José Geraldo Neres é produtor cultural, poeta/escritor, roteirista, co-fundador do Grupo Palavreiros (escritores/poetas sediados em Diadema/SP), ex-estudante de dramaturgia, atual Coordenador de Comunicações e Web-Master do site PALAVREIROS. Co-editor da Revista Eletrônica "Poética Social". Autor de "Pássaros de Papel".


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