domingo, 17 de dezembro de 2017

Tantos muros

* Por Francisco Simões

Quando fez dez anos que derrubaram
O muro que dividia o mundo,
Um mundo antes repartido
Por interesses desiguais,
Tantos e tantos comemoraram
Pois o “muro da vergonha”
Agora não existiria mais.

E então não existe mais vergonha?
Enfim aprenderam a repartir as flores?
O sorriso já não morre nas crianças?
O sangue corre apenas pelas veias?
Já extraíram da política a peçonha?
Nunca mais replantaram velhas dores?
A certeza já caminha com a esperança?
O mar não é mais de lágrimas para as baleias?
Nem a noite, hoje, espalha mais o medo?
Os oceanos não se encontram mais doentes?
A paz agora cresce junto com o homem?
O perdão já entendeu que é sempre cedo?
O mundo já se uniu num continente?
Só o passado conta histórias de fome?
As manhãs se repetem iluminadas? Para todos?
O espinho já não inveja o beija-flor?
A derradeira vítima já foi sepultada?
O carinho já desfez toda tortura? Para sempre?
O preconceito já aprendeu o que é o amor?
Os soldados hoje só usam enxadas? Todos?
Já baixou a neblina das ditaduras? Todas?
E então?
E tantos comemoraram
A queda de um muro a mais,
Mas tantos nem se lembraram
Que dividindo este mundo
Ainda há tantos muros iguais.

* Jornalista, poeta e escritor.




Nenhum comentário:

Postar um comentário