sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Proteção


* Por Eduardo Oliveira Freire


Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura". Friedrich Nietzsche.

Anda pela mansão com uma garrafa de uísque, está completamente falido. Vai ao quarto onde está a mulher, sempre admira a beleza da esposa e sua elegância. Não poderá mais lhe proporcionar a vida de rainha. Pensa que sofrerá muito de ficar sem as unhas feitas, cabelo arrumado e não usar mais as roupas de grife. “Ela não suportará!”.

Pega o revolver que está na gaveta do closet e atira nela. Em seguida, caminha aos aposentos da filha mais velha, angustia-se ao especular que a jovem sofrerá ao sair da escola tradicional e deixará de frequentar os lugares que estava acostumada, perdendo os amigos, que serão a elite do país no futuro. Ainda imagina a filha no transporte público, sofrendo abuso de homens suburbanos, favelados e sujos. “Meu anjinho, não merece isso.”.

Atira. Suspira fundo, mas precisa proteger sua família. Quando entra no quarto do filho mais novo, observa quantos brinquedos o menino possui. “Coitadinho, nunca se adaptará em não ter mais os brinquedos de ultima geração e se for ao colégio público, levará muita porrada. Ainda mais que é branquinho de olho azul...”.

Atira. Exausto senta no sofá da sala e o Tobi aparece, fazendo-lhe festa. “ Coitadinho, ficará muito doente em parar de comer a ração importada e, se não for mais tosado, irá se transformar numa coisa nojenta. Ainda bem que sobraram duas balas”. Atira no cachorro de raça exótica e depois, nele. Faz o que tem que ser feito. Protege sua família.

* Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural e aspirante a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/

 


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