terça-feira, 14 de novembro de 2017

Para o bem e para o mal


A capacidade de criar do bicho homem é fantástica, diria, até, que é infinita. Essa, aliás, é a característica que fez dele senhor do Planeta, enquanto espécie. Pelo menos em tese, somos (todos) dotados desse potencial de criatividade. Por que uns o desenvolvem e atuam como se fossem mágicos, fazendo descobertas incríveis e inventando coisas que antes de inventadas pareciam impossíveis, enquanto outros são mais estúpidos do que portas e têm habilidades inferiores às de um macaco treinado? Há uma série de fatores para que haja essa diferença, que não cabem na presente análise.

Quando me refiro à criatividade, sequer estou pensando em literatura e nas artes em geral. A presença dessa virtude fica implícita nessas atividades, das quais é condição “sine qua non”. Se você não criar, não será artista coisíssima alguma e... ponto final! Refiro-me à aptidão para suprir necessidades básicas e solucionar problemas desde os urgentíssimos até os que comportem soluções de longo prazo. Acompanhem meu raciocínio.

Durante um tempo enorme da sua existência, o homem tinha uma dificuldade que parecia insuperável para produzir fogo. Não se sabe, óbvio (por não haver restado o mínimo registro desse pioneiro) quem foi que descobriu e sistematizou os primeiros, e rústicos, métodos de produção desse tipo de energia, a calorífica, tão abundante no universo. Mas foi, é inegável e para lá de óbvio, um salto imenso na evolução da espécie. Hoje, o homem gera energia utilizando os mais diversos meios, desde a força das águas ao abundante calor do sol.

Para abrigar-se, a espécie dependeu, sabe-se lá por quanto tempo (provavelmente por dezenas de milhares de milênios) de cavernas naturais, que tinha que disputar com outros animais que lhe eram muito superiores em força e ferocidade. Hoje, constrói torres que são autênticas cidades verticais, com mais de meio quilômetro de altura, dotadas de todas as facilidades proporcionadas pela sofisticada (e miraculosa) tecnologia contemporânea.

Para comunicar-se, nosso remoto ancestral primeiro teve que desenvolver linguagem oral. Há evidências que não sabia nem falar. E desenvolveu isso mediante variedade de sons produzidos pelo seu aparelho fonador e cujas combinações consolidou e tornou comuns, mediante convenção, dando nome e identidade a cada objeto ao seu redor. Milênios mais tarde, sofisticou as coisas ainda mais, criando um sistema de escrita, uma das maiores revoluções, base da civilização como a conhecemos. E hoje? É preciso citar as facilidades e maravilhas ao nosso dispor, tornando um Planeta até não muito tempo atrás enorme (que para muitos parecia infinito) numa aldeiazinha global em que, estando no Brasil, em fração de minutos posso comunicar-me com outra pessoa no Japão, como se estivéssemos cara a cara, por e-mail ou até mesmo pelo celular? Claro que não!

Sequer é necessário mencionar todas as facilidades que a tecnologia nos proporciona, para tornar nossa vida mais fácil, mais confortável, mais segura e mais extensa. Evoluímos, mediante a criatividade, em todos os campos e direções: na medicina, na engenharia, na indústria, nos transportes, etc.etc.etc. Tudo estaria perfeito se a capacidade humana de criar fosse utilizada, apenas, em sentido construtivo, evolutivo, ou seja, para o bem. Mas não é. Também no campo da criação há a luta incessante entre os dois instintos básicos do homem (como, ademais, os de qualquer outro animal): o erótico, de autopreservação e preservação da espécie e seu polo oposto, o tânico, de destruição.

É desnecessário, também, mencionar os inúmeros e sofisticados artefatos inventados e aperfeiçoados a limites extremos, cuja única finalidade é a de destruir, de eliminar, de matar. Há, ainda, armazenados em milhares de silos espalhados pelo território de pelo menos seis dos membros do infame “clube atômico” , bombas e mais bombas nucleares, em enorme profusão, suficientes para destruir por completo pelo menos uma centena de planetas do porte da Terra. O engraçado é que as sociedades que detêm essas armas (e as que não as detêm) acham sua existência e posse “normais”. Normais como, cara pálida?! Trata-se de brutal insanidade, de absoluta loucura, mas...

Voltando à abordagem inicial, constatamos que há pessoas que têm potencial imenso de criatividade, mas que o desperdiçam por falta de disciplina, método e comprometimento com o que quer que seja. Se essa aptidão for para criar artefatos de destruição, é até uma bênção que permaneçam obtusas e estúpidas como uma porta. Muitas, no entanto, poderiam ser magníficas cabeças pensantes que, se desenvolvessem sua capacidade criativa para o bem, poderiam resolver os milhares (não seriam milhões?) de problemas ainda pendentes que ameaçam e tornam difícil a vida humana.

Alguns indivíduos mal instruídos ou mal educados acham que lhes basta mera “inspiração” para inventarem máquinas, princípios, ideologias ou, até, para comporem simples poema. Estão equivocadas. A capacidade de criar só pode ser plenamente desenvolvida e exercida com disciplina, concentração, estudo e trabalho. Requer, além disso, meticuloso planejamento e rigor na execução do que foi planejado. E mesmo com tudo isso, o resultado será sempre incerto. Sem essas virtudes, porém, não haverá resultado algum.

Albert Einstein, tido e havido como gênio, criador, entre outras coisas, da “Teoria da Relatividade”, afirmou em seu livro “Como vejo o mundo”: “Fazer, criar, inventar exigem uma unidade de concepção, de direção e de responsabilidade”. E, convenhamos, ele sabia o que dizia. Seu currículo, ou seja, suas realizações depunham, por si sós, e enfaticamente, a seu favor.

Fica, pois, um conselho óbvio a você, leitor (e que serve, evidentemente, para mim e pára qualquer pessoa): Não desperdice seu talento por mera negligência, ignorância e, principalmente, preguiça Aplique-se, concentre-se, estude e trabalhe, sem esmorecimento ou desânimo. Essa recomendação vale quer você seja artista, quer cientista ou quer mero artesão Justifique sua passagem (aliás, brevíssima) por este estranho (exótico?) Planeta. Afinal, a vida é oportunidade única, sem nenhuma chance de reprise. Mas desenvolva e aplique sua criatividade apenas para o bem. Não seja agente de Tanatos, que sequer precisa de asseclas em sua tarefa de arrasar tudo e todos, de células a civilizações, planetas, estrelas, galáxias…

Boa leitura!

O Editor.


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