sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Medida do homem



O homem deve ser medido somente pela sua capacidade de servir aos semelhantes. Ou seja, de justificar a razão da sua presença no mundo. Todo e qualquer outro critério, que não se enquadre nesse parâmetro, corre o risco de resultar em gritantes injustiças contra seres humanos brilhantes, de intensa riqueza espiritual e de grande valor moral.

As diversas sociedades através da história, desde tempos remotos, têm lançado mão de estúpidos rótulos para classificar pessoas, como se estas fossem mercadorias nas prateleiras de supermercados. Desde épocas bíblicas, ou anteriores a elas até, quem tinha algum problema de locomoção, ou alguma dificuldade no manejo de uma espada, era considerado uma pessoa inferior. Ganhava o contundente e ofensivo epíteto de “aleijado”, hoje suavizado para “deficiente físico”.

No entanto, muitos desses indivíduos, avaliados por critérios tão tacanhos, foram verdadeiros gigantes das épocas em que viveram. Homero, um dos maiores poetas de todos os tempos era cego. O presidente norte-americano do “New Deal”, a era de recuperação e de prosperidade na hoje maior superpotência do Planeta, Franklin Delano Roosevelt, era paralítico. O sublime compositor da “Nona Sinfonia” e de tantas outras obras magistrais, Ludwig van Beethoven, era surdo.

E o que dizer da genialidade de Stephen Hawking, que nem falar sem a ajuda de um sintetizador de voz consegue e que, no entanto, é um dos gênios ainda vivos, da humanidade, que ministra palestras, escreve livros e aproveita a maior parte do seu tempo para tentar desvendar os intrincados mistérios do universo (como o dos buracos negros), em vez de se lamentar da doença que o acometeu. É admirável a grandeza desse homem, dotado de uma inteligência supra normal alojada em um corpo sumamente frágil!

Onde estão, porém, os “atletas”, os “guerreiros”, os modelos de perfeição física dos seus respectivos tempos, que possivelmente escarneceram desses gênios? Quem se lembra dos seus nomes passado um punhado de anos? O que fizeram de essencial e imprescindível para justificar sua passagem pelo mundo? Nada! Por isso foram punidos (e muitos também o serão) com o castigo maior que pode haver para um ser humano: o eterno esquecimento.

Já escrevi, certa feita, que não há praticamente ninguém que não seja deficiente. Quem não tem problema nos órgãos locomotores, sofre de achaques crônicos do fígado, do estômago, dos pulmões, do coração etc. E mesmo quem vende saúde e disposição, muitas vezes, traz dentro da cabeça algo que é menos do que um amendoim seco.

Por isso, o que as pessoas portadoras de qualquer deficiência devem fazer, em primeiro lugar, é se recusar a aceitar esse rótulo. Isso não implica em dizer que ela não esteja se aceitando como é. Mas, como dizia meu saudoso e inteligentíssimo tio Jan Kraszczuk (para que eu não me revoltasse com a minha deficiência física): “O homem se mede da linha do nariz para cima”. Ou seja, pela sua capacidade de raciocínio, que é o que o distingue das feras broncas.


E mesmo este critério é um tanto injusto para com muitos que, embora com incríveis dificuldades mentais, têm uma capacidade ímpar, infinita de servir. Ou são dotados de uma grandeza sem igual de sentimentos. Ou dispõem de qualquer outra virtude maravilhosa, que não souberam descobrir em si, mas que nunca deixaram de ter.
É esta a maior descoberta que devemos tentar fazer, em vez de ficarmos lamentando as nossas fraquezas e vulnerabilidades. Ou seja, o potencial com que a natureza nos dotou e que, muitas vezes, por causa de uma autopiedade calhorda, vazia e covarde, acabamos por atrofiar.


Boa leitura!

O Editor.

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