sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Uma despedida

* Por Algernon Charles Swinburne

Vamos, canções, ela não ouviria
Sigamos sem temor por nossa via.
Silêncio, o tempo de cantar passou,
Passou já tudo o que se quis um dia.
Ela não quer o amor que nos marcou.
Fôssemos a voz de um anjo em melodia
E ela não ouviria.
Vamos partir. Ela não saberia.
Vamos ao mar, como é da ventania,
Soprando areia, espuma, que fazer?
Nada a fazer, que a vida é mesmo fria,
E o mundo é lágrimas e é padecer.
Mostrássemos a dor que em nós havia
E ela não saberia.
Para casa! Ela não sofreria.
Demos de amor, sonhos demais, e dias
E flores mortas, frutos condenados,
Dizendo:”Ceifa, como `a fantasia”
E nada resta: foi tudo ceifado.
Visse em nós, que plantamos, a agonia,
E ela não sofreria.
Ao descanso! Ela não nos amaria
Nem vai ouvir a nossa litania
Nem ver que amar caminha em dor, no mundo.
Vamos daqui, cessemos a porfia.
O amor é mar amargo, hostil, profundo;
Pudesse o céu dar flores- sim, daria,
E ela não amaria.
Desistamos! Ela nem cuidaria.
Dourasse a estrela os mares que alumia,
Dourasse o mar a vaga que estremece
E a flor da lua a flor da espuma espia,
E as ondas todas sobre nós trouxesse,
Lábios cerrasse, a mão deixasse fria,
E ela nem cuidaria
Vamos canções, ela não nos veria.
Uma vez mais, cantemos, todavia.
Talvez ela relembre o que dissemos
E queira ainda ouvir nossa elegia,
Mas nós, nós já partimos. Nem viemos!
Quem vê sabe da dor que me agonia,
Mas ela não veria.

Tradução: Jorge Wanderley


* Poeta, dramaturgo, romancista e crítico inglês.


Nenhum comentário:

Postar um comentário