quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Invólucro

* Por Assionara Souza

Que susto é esse
Com que se nasce
Sina ou aceno
Destino incerto
Será de carne?
Gesso, talvez?
Papel carbono?
Bala de goma?
Eu mesma tenho
A irmã também
Em meio ao corpo
Tanto adversa
Como uma falta
Gritando o tempo
Vazio intenso
Pleno de signo
Foi Deus quem fez?
A mãe quem quis?
Algum juiz?
Quem foi, quem diz?
Desenho liso
Mole mucosa
Aberta em flor
Tão desastrada
Seu nome esconde
Outra morada
Tão proibida
Tão desejada
É quente é fria
Aguada ou seca
Conforme oscila
O que deseja
Se vai crescendo
Desconfiada
De tão estranha
A anatomia
A noite escorre
Em sonho ardente
Todo o delírio
Da tarde ausente
Por causa dela
Sofre a menina
Depois a moça
E a mulher
Horror antigo
Ser devassada
Pela espada
Do invasor
Guarda em coeiros
Paninhos santos
Mil cadeados
Perdem o encanto
Estranha ilha
Para onde rumam
Aventureiros
E suicidas
Como acordá-la?
Empoderá-la?
Politizá-la?
Incêndio. E ela!
Coisa partida
Atravessada
Margem do cio
Enviesada
Coisa mil vezes
Interpretada
Analisada
E incompreendida
Coisa banida
Das decisões
Enclausurada
Domesticada
Como enfrentá-la
Assim de frente?
Espelho à mão
Riso contente?
O bicho esquivo
De unhas longas
Uivo afiado
Pescoço esguio
Todo o corpo
Transcende o ato
Eis o mistério
Desse aparato


* Escritora potiguar residente em Curitiba.

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