terça-feira, 8 de agosto de 2017

Presença africana


* Por Alda Lara


E apesar de tudo,
Ainda sou a mesma!
Livre e esguia,
filha eterna de quanta rebeldia
me sagrou.
Mãe-África!
 
Mãe forte da floresta e do deserto,
ainda sou,
a Irmã-Mulher
de tudo o que em ti vibra
puro e incerto...
 
A dos coqueiros,
de cabeleiras verdes
e corpos arrojados
sobre o azul...
A do dendém
Nascendo dos braços das palmeiras...
 
A do sol bom, mordendo
o chão das Ingombotas...
A das acácias rubras, 
Salpicando de sangue as avenidas,
longas e floridas...
 
Sim!, ainda sou a mesma.
A do amor transbordando
pelos carregadores do cais
suados e confusos,
pelos bairros imundos e dormentes
(Rua 11!... Rua 11!...)
pelos meninos
 
de barriga inchada e olhos fundos...
 
Sem dores nem alegrias,
de tronco nu
e corpo musculoso,
a raça escreve a prumo,
a força destes dias...
 
E eu  revendo ainda, e sempre, nela,
aquela
Longa história inconsequente...
 
Minha terra...
Minha, eternamente...
 
Terra das acácias, dos dongos,
dos cólios baloiçando, mansamente...
Terra!
Ainda sou a mesma.
 
Ainda sou a que num canto novo
pura e livre,
me levanto,
ao aceno do teu povo!
 
Benguela,1953 (de  Poemas,1966)  


* Poetisa angolana

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