sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Por que ocupam a Câmara Municipal de São Paulo?


* Por Urariano Mota

Falam as notícias desta sexta-feira:


O plenário da Câmara Municipal de São Paulo continua ocupado, após 70 integrantes de diversos movimentos sociais invadirem o espaço com bandeiras e cartazes.

Os manifestantes pedem o fim das restrições no passe livre estudantil e protestam contra os projetos de lei (PL) 364 (venda do estádio do Pacaembu), 367 (pacote de concessões à iniciativa privada) e 404 (venda de imóveis iguais ou inferior a 10 mil metros quadrados) e pedem a realização de um plebiscito para que a sociedade possa decidir sobre as privatizações. O presidente da Câmara não atendeu ao pedido dos estudantes de retirada dos três projetos de lei e disse que isso não é possível ser feito devido ao regimento da Casa.

‘Não vamos aceitar propostas de privatização sem que a população seja ouvida. Exigimos um plebiscito’, disse Gabriela Ferro, representante do Movimento Juntos.

A manifestação segue pacífica. Estão no local representantes do Movimento Juntos, Une (União Nacional dos Estudantes), DCE (Diretório Central de Estudantes) da USP e Passe Livre”
As razões que escrevi no artigo “Por que ocupam escolas e universidades?” creio que continuam em plena validade. Ali, se falava:

Como sempre, a televisão, a grande mídia, fala dos danos causados pelos protestos à sociedade. Essa informação é conhecida: em todo movimento ou greve, mostra-se o quanto a vida ficou ruim depois dos baderneiros e agitadores. Jamais se mencionam as razões que levam à desordem. Minto, mencionam, no cumprimento do papel de “mostrar o outro lado”. Mas pelo tempo exibido, pela ênfase e eloquência, o outro lado é mínimo frente aos estragos causados. Ensinava Brecht: "Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas as margens que o comprimem".

Por que os estudantes ocupavam escolas e universidades? Por que ocupam agora a Câmara Municipal de São Paulo? O que os estudantes me disseram ali podem muito bem falar os que ocupam hoje a Câmara Municipal de São Paulo:

“Acho que as ocupações são um movimento não tão grande quanto o necessário diante dos cortes que a gente
vem sofrendo, mas se crescer em rede, a gente consegue parar o Brasil.

As ocupações têm contribuído bastante para a formação das e dos estudantes envolvidos por meio das discussões e principalmente do convívio diário.

Tem sido uma experiência incrível, em todos os sentidos: político, coletivo, de formação e pessoal. Além de reunirmos forças e vermos as e os estudantes despertando mais e mais pro fazer político, vendo estudantes que até então estavam distantes e apáticas se aproximando, participando, assumindo tarefas. Uma experiência real de coisas que a gente estuda, experiência de democracia real, de construção coletiva e de luta em defesa da classe trabalhadora e dos nossos direitos”.

E concluí antes o que concluo aqui:

Talvez os estudantes não saibam o quanto são fundamentais à juventude que viveu sob a mais feroz ditadura. Eles retomam agora o lugar de gerações anteriores. E o que se foi continua em nova vida pelo fio histórico da indignação. Eles nos falam que somos agentes da duração do tempo, que a nossa vida é a resistência ao fugaz. Nós só vivemos enquanto resistimos. Por quem os jovens ocupam? Ocupam por todos nós, enfim. 

* Escritor, jornalista, colaborador do Observatório da Imprensa, membro da redação de La Insignia, na Espanha. Publicou o romance “Os Corações Futuristas”, cuja paisagem é a ditadura Médici, “Soledad no Recife”, “O filho renegado de Deus”, “Dicionário amoroso de Recife” e “A mais longa juventude”. Tem inédito “O Caso Dom Vital”, uma sátira ao ensino em colégios brasileiros

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