sábado, 12 de agosto de 2017

Para comer depois
* Por Adélia Prado
Na minha cidade, nos domingos de tarde,
as pessoas se põem na sombra com faca e laranjas.
Tomam a fresca e riem do rapaz da bicicleta,
a campainha desatada, o aro enfeitado de laranjas:
‘Eh bobagem!’
Daqui a muito progresso tecno-ilógico,
quando for impossível detectar o domingo
pelo sumo das laranjas no ar  e bicicletas,
em meu país de memória e sentimento,
basta fechar os olhos:
É domingo, é domingo, é domingo.


(Do livro Bagagem, Editora Record, 2010, 29ª edição, página 43).


* Uma das mais inspiradas e principais poetisas brasileiras.

Nenhum comentário:

Postar um comentário