quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Montes Claros: Memórias do Centenário”


* Por Mara Narciso

Quando Montes Claros fez 150 anos foi possível ver a lista dos 150 homenageados, com muitos nomes de rua, que desfilaram, como se saíssem da história e viessem nos assombrar com os seus feitos, e gente de hoje, pessoas que trombamos nas esquinas. Então, se passou uma década e Montes Claros fez 160 anos.

Meus pais gostavam de Montes Claros. Minha mãe, Milena Narciso, natural de Montes Claros, cantava pra mim: “Montes Claros/ Vovó Centenária/ está tão bonita/ de vestido novo/” (Luiz de Paula Ferreira), e explicava que a música do Centenário contava como a população se preparou, pintando suas casas para festejar os cem anos da cidade. Maria Inez Narciso, minha tia, ainda criança tinha aberto o desfile do Centenário, vestida de formiga para homenagear o nome primitivo da cidade, que era Vila Montes Claros de Formigas.

Meu pai, Alcides Alves da Cruz, mudou-se de Januária para Montes Claros aos 15 anos, e nunca houve nenhum “montes-clarense” mais fanático do que ele, natural da Bocaiúva. Foi contador, jogava futebol, era amigo do Dr. Hermes de Paula, que dirigiu o Cassimiro de Abreu Futebol Clube e também foi presidente do Centenário. Pai nos explicava que o nome do Pentáurea Clube, outra criação do Dr. Hermes, significava cinco bodas de ouro, referentes aos 250 anos de fundação (1707 a 1957).

Então, o Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros lança o livro “Montes Claros: Memórias do Centenário”, de Rogério Othon e Luciano Pereira, professores da Unimontes, com prefácio de Dário Teixeira Cotrim, e traz na capa a foto de Maria Inez Narciso, à frente do desfile. Modestos, os autores dizem abrir uma janela para que outros trabalhem o assunto com maior detalhamento. Nada foi falado sobre o papel da Rádio ZYD-7, fundada em 1944. Como teria sido sua atuação?

O livro é uma imersão no passado, na qual o leitor irá encontrar os nomes de rua em plena ação em prol de, com o Centenário, dar uma injeção de desenvolvimento na cidade. Isso aconteceu de forma mais marcante na década de 1970, com um período de industrialização e isenção de impostos proporcionada pela Sudene – Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste e asfaltamento da rodovia para Belo Horizonte, expectativas semeadas no Centenário.

Em 1955, após longa pesquisa, o Dr. Hermes da Paula descobre os 250 anos de fundação (Sesmaria recebida por Antônio Gonçalves Figueira em 1707, que “afazendou-se” na Fazenda Montes Claros) e os cem anos de cidade a ser comemorados em 3 de julho de 1957. Houve reserva das autoridades ao lembrar que a emancipação teria ocorrido em 1832 e que o centenário já tinha sido comemorado. O escritor Haroldo Lívio escreveu sobre o “inventor do Centenário” de forma elogiosa, explicando a veracidade do fato.

Os preparativos duraram dois anos, um livro de 600 páginas foi escrito por Hermes de Paula: “Montes Claros, sua história, sua gente e seus costumes”, obra importantíssima, sendo a mais pesquisada e citada em âmbito acadêmico; foi construído o Colégio Marista São José e o Parque de Exposições João Alencar Athayde; aconteceram avanços urbanísticos e uma arrancada civilizatória, colocando Montes Claros no mapa.

Era presidente da república Juscelino Kubitscheck e governador de Minas Bias Fortes, que vieram ao evento, sendo prefeito de Montes Claros Geraldo Ataíde. A cidade não tinha como hospedar figuras tão ilustres, então as autoridades ficaram nas casas dos organizadores da festa, que constou de desfiles, representações folclóricas, rodeios, leilões de gado, baile de gala e muitas promessas.

O livro “Montes Claros: Memórias do Centenário” explica toda a festa, ocorrida há 60 anos, mostrando reportagens da época do evento, especialmente do Jornal Gazeta do Norte, já extinto, como também publicações em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro - Distrito Federal. Também trouxe crônicas sobre os cem anos de cidade nas letras bonitas de Rubem Braga, Carlos Drummond de Andrade, Anderson Magalhães, Maria Antônia Alkmim, Haroldo Lívio, Yvonne Silveira, Hermes da Paula e outros.

Quem ama Montes Claros vai se apaixonar pelo passeio ao Centenário, e quem ainda não ama, vai amar.

* Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”



2 comentários:

  1. A exemplo de outros textos seus sobre sua terra, você mais uma vez atiça minha curiosidade em conhecer Montes Claros, Mara. Abraços!

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  2. Apareça, Marcelo, mas traga água. Aqui não tem. Obrigada!

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