segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Estilhaço

* Por Francisco Simões

Meu mundo está encolhendo.
O horizonte já não está
Tão distante quanto antes.
Meu telhado de nuvens está
Baixo e continua descendo.
Que o tempo não me remende,
Que a vida não me tenha intruso
Enquanto sigo em desuso
Com a validade vencida,
Um andejo vacilante
Na orla de sobrevida.
Minha alma calada entende
E espera impalpável no etéreo
Na düidade da existência.
Quantas desculpas esqueci
De pedir por arrependimentos,
Por pesares, por negligências,
Quantas súplicas guardei
No silêncio de um momento
Em que eu me arrependi!
Quantos sonhos nunca acordaram.
Nas asas do tempo partiram
Tantas vozes e braços amigos,
Fiéis abrigos que hospedaram
Minhas carências, fraquezas
E incertezas que a desoras
Moldaram este engaço de agora,
Este estilhaço prévio de vida
Que nem na estação mais florida
Festejou  a  primavera.

* Jornalista, poeta e escritor.


Nenhum comentário:

Postar um comentário