sexta-feira, 14 de julho de 2017

Poeta de Campinas


* Por Pedro J. Bondaczuk

A cidade de Campinas teve, no professor Benedito Sampaio, seu grande poeta. Seus versos cantaram e decantaram as ruas, as praças e principalmente as pessoas que aqui viviam, trabalhavam, amavam e morriam em sua época. Sua poesia, embora não se concentrasse no tema, foi uma espécie de “Paulicéia Desvairada”, a grande obra de Mário de Andrade em que o intelectual paulistano captou a alma de São Paulo. Mas são raros, raríssimos, os campineiros (ou os que o são apenas por opção, e não nascimento, como nós) que se detenham em relatar as coisas e a gente desta metrópole.

Há um poema, todavia, de Sólon Borges dos Reis, vice-prefeito da cidade de São Paulo, inserido no livro “Carrossel do tempo”, que merece citação, até por uma questão de justiça. Seu título é “Troca” e diz:

“E proponho a troca:
os Boulevards, Oxford Street e mais a Broadway,
a Kudam, a Gran Via e a Via Vêneto,
por seis quadras apenas, nada mais,
entre a Barreto Leme e a Morais Sales,
por um pedaço só da minha rua
por um pedaço só da Luzitana.
E ofereço a Concorde ou a Piazza Ezedra e a
Vendome,
Trafalgar, Times Square,
Por um largo só, como era antes,
Se voltasse,
O Largo do Mercado”.

Nós também trocaríamos (se fossem nossos) os logradouros mais conhecidos e badalados do mundo pelo Bosque dos Jequitibás, por exemplo. Ou pela Lagoa do Taquaral. Ou pelo Jardim Carlos Gomes, com seu bucólico coreto. Campinas toda é uma poesia, com aspectos líricos e outros trágicos (como o das crianças abandonadas que se marginalizam). Falta, somente, um poeta, como Benedito Sampaio, que imortalize a cidade atual em seus versos.

(Capítulo do livro “Por uma nova utopia”, Pedro J. Bondaczuk, páginas 77 e 78, 1ª edição – 5 mil exemplares – fevereiro de 1998 – Editora M – São Paulo).


PUBLICADO A PEDIDOS




* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas), “Antologia” – maio de 1991 a maio de 1996. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 49 (edição comemorativa do 40º aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53, página 54. Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk

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