domingo, 9 de julho de 2017

Individualidade e personalidade



As palavras “individualidade” e “personalidade” são, em geral, interpretadas como sinônimas, quando, na verdade, têm significados distintos. Um indivíduo é uma unidade de determinada espécie (ou de uma determinada coleção, se nos referirmos a objetos) sem se levar em conta suas características peculiares, individuais, únicas; mas apenas as do grupo, ou do conjunto que integra.

Uma rosa, por exemplo, se insere neste caso em relação às flores, se não especificarmos a qual delas nos referimos. Determinado vírus também, em relação à sua categoria, sem que se leve em conta sua identidade, ou seja, de que tipo e causador de qual doença ele é. O mesmo ocorre com uma cadeira, um automóvel etc. genéricos.

São todos indivíduos, não necessariamente pessoas. Já quando se fala de personalidade, a conotação é diferente. A palavra confere toque de particularidade, de exclusividade. Tem-se em mente características de determinada pessoa, por exemplo, John Kennedy, identificada não apenas pelo nome (pois podem haver múltiplos homônimos), mas por suas ideias, desejos, emoções, histórico de vida e circunstâncias, únicos e exclusivos.

Para compormos uma individualidade, não se requer nenhum esforço. Basta existirmos. Já a formação de uma personalidade exige educação (em sentido amplo), vivência, experiências e anos e mais anos de vida, com o cotidiano acrescentando a cada momento novas peculiaridades a determinada pessoa que lhe serão exclusivas. Elas poderão ser “semelhantes” às de outras tantas, mas jamais iguais.

As influências a que fomos, somos e seremos submetidos até nosso derradeiro dia de existência são incontáveis e imprevisíveis. Somos influenciados, por exemplo, pelo meio em que vivemos. Se tivemos a ventura de nascer em um lar equilibrado e de contar com pais amorosos e sábios na condução dos nossos primeiros passos, nossa personalidade será uma.

Caso contrário, se nascemos em uma família desestruturada, se nossa realidade equivaler à de uma sucursal do inferno, as probabilidades de repetirmos tudo o que de ruim passamos, quando chegar a nossa vez de nos reproduzirmos e educarmos nossa prole, serão bastante altas (posto que não inexoráveis).

Claro que sempre há a possibilidade de superação. Conheço inúmeras pessoas que nasceram e se criaram em ambientes hostis e que, no entanto, se tornaram homens e mulheres notáveis, carinhosos e responsáveis, exemplos de dedicação e de grandeza. Para que isso aconteça, porém, é necessário que desde a tenra idade tenham consciência. Que saibam distinguir, sem ambigüidades, o bem do mal, o certo do errado, o altruísmo do egoísmo, a nobreza da vilania e fazer a opção correta.

Quando me refiro ao ambiente, não quero dizer que se trate, apenas, do familiar, longe disso. Têm que ser levados em conta todos os que viermos, eventualmente, a integrar (o escolar, o profissional, o religioso, o social etc.). As companhias, por exemplo, contam, e muito, na formação e desenvolvimento de uma personalidade sadia e equilibrada. O povo até tem um adágio, que de tão utilizado até já se transformou num clichê – mas que sempre é oportuno lembrar, pelo tanto de sabedoria que encerra – que acentua: “diz-me com quem andas e te direi quem és”.

Então pessoas que freqüentam o mesmo ambiente desenvolverão personalidades iguais?”, perguntarão alguns, mais afoitos e descuidados, com a resposta equivocada na ponta da língua. Errado! Podem desenvolvê-las semelhantes, o que não é a mesma coisa. Têm que ser levados em conta outros fatores, notadamente psicológicos, que fazem com que as reações sejam as mais diversas, assim como as lembranças, as experiências etc.etc.etc.

Tomem dois gêmeos semelhantes em tudo. Criem-nos nos mesmíssimos ambientes, eduquem-nos rigorosamente da mesma forma, deem-lhes exatamente os mesmos estímulos. Pergunto: os dois terão a “mesma” personalidade? Jamais! Poderão, até, tê-la parecida ou semelhante. Igual, nunca!

O filósofo francês, de orientação católica (tomista) Jacques Maritain escreveu o seguinte a propósito: “Cada ser humano é um indivíduo como o animal, a planta, o átomo, fragmento de uma espécie, parte singular da imensa rede de influências cósmicas, étnicas e históricas que o dominam. E ao mesmo tempo é uma pessoa, quer dizer, um universo de natureza espiritual, dotado de livre-arbítrio e, como tal, um todo independente em face do mundo”.

Portanto, meu amável e paciente leitor, não há porque confundir, quando conversar com os amigos a esse respeito, individualidade com personalidade. São, como se vê, conceitos bastante distintos, posto que complementares.

Boa leitura!


O Editor.


Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk

Um comentário: