Gigantes da espécie
O
gênio, ao mesmo tempo em que é fascinante, é assustador,
notadamente para o medíocre, o invejoso e o fútil. Quase nunca
reconhecido pelos contemporâneos, é combatido pelos néscios e
curtos de inteligência e, não raro, reprimido pelos poderosos.
Estes veem nele permanente perigo para seus propósitos de manterem
as massas submissas e em estado de ignorância, para que ninguém,
claro, conteste, ou coloque em xeque, seu poder. Mas é o que faz a
diferença em seu século e projeta sua grandeza tempo afora, muito
além da própria vida.
A
genialidade se manifesta, via de regra, por três formas: pelo
raciocínio, imaginação e ação. Raramente uma mesma pessoa reúne,
simultaneamente, todas essas características. Quem o faz, é mais do
que grande homem, mais até do que gênio: é o que denomino de
Gigante da Espécie. Tenho profunda reverência por ele. Procuro, com
minhas limitações e deficiências, imitá-lo o tanto que me seja
possível. Exalto-o sem cessar, grato pelos incontáveis benefícios
– intelectuais, espirituais e até materiais – que me traz.
Quem
se destaca pelo raciocínio, profundo, lúcido e prático, é uma
espécie de farol em uma noite de tempestade em alto mar. Ilumina o
caminho, impedindo que a nossa nau se choque com arrecifes de enganos
e falsidades e nos guia, com segurança e certeza, para o benfazejo
porto da verdade. São os grandes filósofos, os argutos pensadores,
os que raciocinam com lógica e derrubam, com sua luz, as grossas
muralhas dos dogmas e sofismas.
Cabe,
aqui, uma explicação. Raros, raríssimos são os textos que escrevo
em que não faça alguma citação. A maioria das pessoas
(infelizmente) não tem clarividência para entender atitudes
alheias. Desmancha-se em críticas a qualquer coisa que fuja do
convencional e prefere fazer extrapolações negativas (e burras),
além de atribuir intenções que, de fato, os criticados não têm.
Já
fui acusado, até, de plágio, por causa das citações que faço.
Tremenda besteira! Basta ir à obra citada para perceber que o
contexto é bem diverso do que abordo. Poderia suprimir o que cito
sem que o texto perdesse integridade, coerência e originalidade. Meu
único intuito, porém, é o de homenagear o citado. E nada e ninguém
me impedirão de manifestar reverência por estes gênios.
Também
já me acusaram de “narcisismo intelectual” por me utilizar de
citações. Meus acusadores dão a entender que cito esses gigantes
da espécie “somente” para exibir erudição. Esta é de lascar!
Então, num texto, o que devo expressar é minha ignorância e
boçalidade?! É o que devo transmitir aos meus fiéis leitores?! É
proibido ser erudito?! A superficialidade e a tolice é que devem
prevalecer?! Quem pensa isso de mim, que me faça um favor: não me
leia! Passe a anos-luz de distância dos meus textos, combinado?
Há
quem se destaque pela imaginação. São os grandes artistas, que nos
abrem, de par em par, as portas da beleza e nos levam a enxergar a
vida em sua verdadeira dimensão e não esta das aparências do
cotidiano, violenta, cinza-chumbo, estúpida e mesquinha. São os que
mais admiro e requisito e, sobretudo, procuro imitar, por serem os
gênios da atividade que me seduz e que coloquei como missão de
vida, que é o manejo das letras.
Há,
também, os grandes homens que se destacam pela ação. São os
empreendedores por excelência, os realizadores, os que fazem aquilo
que os tíbios e omissos consideram impossível. São os campeões
esportivos, os que ampliam os limites da capacidade e da resistência
física para muito além de onde encontraram. São os líderes de
multidões, que conduzem povos a seus grandiosos destinos.
E
há, finalmente (estes sim raríssimos) os que conseguem reunir,
simultaneamente, as três características: raciocínio, imaginação
e ação. Que outra denominação lhes caberia senão a de Gigantes
da Espécie?
Realizam
obras superiores em verdade, beleza, bondade e utilidade. Em geral,
enquanto vivos, não ganham destaque na imprensa. Não freqüentam
manchetes de jornais, infelizmente restritas a bandidos, assassinos,
traficantes, canalhas, corruptos e avaros. Não lhes erguem estátuas
em praças públicas e nem são nomes de ruas e avenidas das grandes
cidades.
São
difíceis, até, de serem identificados, dadas sua modéstia,
humildade e discrição. Mas existem e atuam o tempo todo,
preservando a verdade, a beleza e as realizações humanas. São os
sustentáculos da civilização. São gênios, como ressaltou Eça de
Queiroz, no livro “Notas Contemporâneas”, “cuja natureza não
está suficientemente explicada, mas que constituem uma força
infinitamente maior que o simples talento, o simples gosto ou a
simples virtude”. Que outra qualificação lhes dar, pois, que não
Gigantes da Espécie?
Boa
leitura!
O
Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Fiquei tentando citar-lhes os nomes. Leonardo da Vinte seria um deles.
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