segunda-feira, 10 de julho de 2017

Eu, cadeira presidencial


* Por Frei Betto


Ando muito fria nos últimos tempos. Ninguém me esquenta. Havia uma senhora sentada sobre mim. Recordo que ela se levantou, abrupta, ao receber a carta na qual seu vice se queixava de ser uma figura decorativa. E, súbito, a senhora sumiu…

Veio então o decorativo senhor e me ocupou. Mas ainda não esquentou assento. Prefere atender a turma do beija-mão fora de mim. Já a do beija-bolso, nos porões do Palácio Jaburu.

Agora me sinto reduzida ao jogo infantil do senta-levanta. Em poucos dias, três bundas diferentes desabaram sobre mim. Já nem sei quem governa o Brasil. O piloto sumiu! A rotatividade presidencial anda acelerada.

Só me resta ficar aqui à espera de que a nação assegure um mínimo de estabilidade ao país e fundilhos dignos e limpos a quem meus braços acolhem e meu estofado sustenta.

* Frei Betto é escritor, autor de “O que a vida me ensinou” (Saraiva), entre outros livros.



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