quarta-feira, 12 de julho de 2017

Através do vidro


* Por Guilherme Sardas


No carro da frente,
Um menino me olha sereno
Através do grande vidro traseiro
Ele estava assustado
Poucos segundos atrás
Com o ritmo ao redor
E o diálogo dos pais
Mas quando me viu
As mãos balançando
O sorriso e as caretas
Minha boca elástica
Eu gritava um bolero dramático
Simulava a bateria no ar
Eu lembrava da piada obscena de minutos atrás
Eu lembrava de esquecer a angústia de ontem
Eu me sentia frágil, apesar de achar que tudo vai bem
E sentia uma vergonha de ver meu corpo tão indisciplinado assim
O menino acalmou
Recostou o queixo no encosto do banco
E ficou me olhando
Feito um cãozinho tranquilo
Que não se sente tão só

* Jornalista e redator publicitário



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