domingo, 16 de julho de 2017

Às pombas


* Por Francisco Simões


Pombas, pombas, pombas,
Fujam da Paz,
Da Paz que faz bombas,
Das bombas dos homens
Que defendem a Paz.
Fujam para a vida,
Escapem da bala,
Do tiro que cala
E da asa partida.
Fujam da cruz,
Da traição, do suplício,
Do tormento e sacrifício,
Que vive a se repetir.
Fujam do rugir
Do monstro, da besta,
Do homem que pretexta
Seus atos de destruir.
Fujam do siso
Que assassina a loucura
Na cura pelo juízo
Que vence, cresce e tortura.
Fujam do sábio
E de suas tolices,
Tentem ler nos seus lábios
O que ele não disse.
Fujam do culto,
Do mito, da idolatria,
Pois toda mente vazia
É a morada do inculto.
Fujam do sonho
Que não puderem tê-lo,
Pois o pior pesadelo
É acordar desse sonho.
Fujam da cabala
Que trama pelo poder
E do tolo que fala
Somente para obedecer.
Fujam do silêncio
Que a verdade atrofia
E que não denuncia
Porque é conivente.

Fujam do ardente
Discurso político
Que no mote é eloqüente
E na ação é paralítico.
Fujam do bem,
Da bem-aventurança,
Que nos planta esperança
Para colhermos só no além.
Fujam do pó,
Da poeira que nos cega,
Que violenta e desagrega
E na ilusão deixa só.
Fujam da rosa
Sem perfume, venenosa,
Hoje ainda mais poderosa,
A “Rosa de Hiroshima”.
Fujam da rima
Dos meus versos de utopia
Por uma vida que um dia
Não torture, não oprima.
Fujam das sombras
De um grande sol virtual
Quando a vida real
Sucumbir ante as bombas.
Pombas, pombas, pombas,
Fujam enfim
Desta visão tão escura,
Da consciente loucura,
Pombas, fujam de mim.
 


* Jornalista, poeta e escritor.

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