domingo, 25 de junho de 2017

A morte de Ayrton Senna


* Por Silvio Lancellotti


Dia 1º de Maio de 1994. Em casa, diante da TV, eu me concentrava para a transmissão de um cotejo do futebol italiano, na Band. Com Sílvio Luiz e com Giovanni Bruno, o jogo entre o Milan e a Reggiana, que o Milan acabaria por vencer, 1 X 0 – e, daí, conquistar o título da Velha Bota.

Na mesma data, em Ìmola, também na Bota, acontecia o Grande Prêmio de San Marino de Fórmula-1, Ayrton Senna no cockpit de uma Williams, o seu sonho de grande ídolo. Presenciei o acidente do brasileiro. E intuí que fora gravíssimo. Mas, não pude esperar pelos desdobramentos. Precisava ir até a Band, para o prélio do Calcio. Trafeguei tenso, o meu rádio ligado na corrida, as informações desencontradas se superpondo ao desenrolar do GP.

Comentei o sucesso do Milan. E, quando o embate terminou, pedi que me preservassem a imagem e o som da RAI, a emissora peninsular. Claro, imaginava que a RAI, depois do futebol, certamente exibiria os rescaldos do GP – e cobriria os eventuais socorros ministrados a Ayrton Senna.

De fato, a RAI, fulminantemente, havia deslocado uma equipe completa até o hospital, em Bologna, para onde o piloto fora transferido de helicóptero. Presos no trânsito, os colegas patrícios não chegaram a tempo de verem o que eu vi e de escutarem o que eu escutei. Por volta da uma da tarde, aqui, quatro horas depois da batida letal, uma doutora assumiu um microfone e, muitíssimo constrangida, anunciou: “Silenzio elètrico”. Elia Júnior, o âncora do “Show do Esporte” da Band, me perguntou pelo interfone: “Que significa esse tal de ‘silenzio elètrico’.” E eu arrematei: “Significa que o Ayrton faleceu”.

O Elia, e a Band, passaram adiante a notícia impiedosa vários minutos antes de Roberto Cabrini, da Globo – que estava na Bota. Caiu a ficha. Eu fora o responsável direto pelo furo fatal. Embora um fã de Nélson Piquet, embora não simpatizasse, pessoalmente, com o Ayrton, desandei no pranto. Odiei estar ao vivo naquela situação. Confesso, aliás, que chorei a tarde toda.

* Diplomou-se em Arquitetura. Trabalhou na revista “Veja” de 1967 até 1976, onde se tornou editor de “Artes & Espetáculos”. Passou por “Vogue”, agências de publicidade, foi redator-chefe de “Istoé”, colunista da “Folha” e do “Estadão”, fez programas de gastronomia em várias emissoras de TV, virou comentarista de esportes da Band, Manchete e Record, até se fixar, em 2003, na ESPN. Trabalha, além da ESPN, na Reuters, na “Flash”, no portal Ig e na “Viva São Paulo” e é sócio da filha e do genro na Lancellotti Pizza Delivery – site de Internet www.lancellotti.com.br.





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