domingo, 21 de maio de 2017

Temer, do começo ao fim


* Por Emir Sader


Nem resgate da confiança no governo, nem recuperação da economia, nem fim da corrupção. Temer termina como começou: na mediocridade e na intranscendência.

Marx se perguntava, no XVIII Brumário, como um personagem insignificante como Luis Bonaparte poderia ter um papel de destaque na história. Eram necessárias circunstâncias muito excepcionais para que isso acontecesse. Que condições foram possíveis para que um personagem tao medíocre como Temer fosse guindado à presidência do Brasil?
Temer nasceu para o destaque político quando o PMDB terminou de se descaracterizar, com a derrota em 1989 e a morte de Ulysses Guimarães, marcando o esgotamento definitivo do impulso democrático que esteve presente nesse partido. O impulso não sobreviveu ao governo Sarney e, a partir dali, a morte ideológica do partido estava anunciada.
A mediocridade de Temer o talhava para protagonizar o novo período do PMDB. Como não é nada, em sua absoluta mediocridade, podia ser pintado de diferentes cores, para que o partido se integrasse a diferentes projetos, conforme o vento soprasse. Assim, o PMDB esteve na implementação do programa neoliberal do governo FHC e, em seguida, nos governos que implementarão políticas antineoliberais, em sentido totalmente oposto ao de FHC, nos governos de Lula e Dilma.
Temer não foi escolhido pelo PT para ser vice de Dilma. Ele era o presidente do PMDB, pela sua capacidade camaleônica de manter o equilíbrio entre os diversos caciques do partido e levá-lo para uma ou outra direção, sempre tendo em comum o papel de estabilizador de governos, sem nunca poder disputar a hegemonia. Para agradar seus caciques, o PMDB sempre anunciava, ao final de cada eleição, que teria candidato próprio à presidência na eleição seguinte, que nunca se concretizava. Sem programa próprio, o partido ficou voltado para ser coadjuvante – do PSDB ou do PT.
Na campanha de 2010, Temer foi indicado pelo PMDB para ser vice na chapa da Dilma, com a manutenção do programa dos governos Lula, função que foi reiterada em 2014, quando ele defendeu esse programa na campanha.
A crise do governo Dilma, no começo do seu segundo mandato, abriu as portas para que a mediocridade do Temer fosse colocada a serviço de um outro projeto, o derrotado nas urnas, pela chapa da qual ele tinha feito parte. Valendo-se da disposição desestabilizadora da mídia e do grande empresariado, além da virada interna do partido, sob a condução de Eduardo Cunha, Moreira Franco fez um repertório das piores e mais retrógradas posições da direita, para apresentar como um programa mediante o qual Temer poderia se apresentar como alternativa ao governo Dilma.
O programa era uma expressão da posições da direita – do governo FHC, passando pelas das candidaturas de Serra, Alckmin, Aécio, Marina – e assim reunificou a velha mídia, o grande empresariado e os setores do Judiciário aderidos ao golpe. Foi sua oportunidade histórica de sair da mediocridade e desempenhar papel protagonista. Para isso, anunciou que era necessário reunificar o país, reconquistar a confiança no governo, retomar o crescimento econômico.
Sabemos que nada disso foi feito e assim ele voltou a ser um personagem decorativo, porque nem o grosso do pacote regressivo do programa que ele havia assumido foi aprovado. As acusações de corrupção comprovadas o tornaram um personagem mediocremente inútil. Ele cai sem pena nem glória e o país fica entregue a uma situação caótica do ponto de vista político e institucional e de desagregação do ponto de vista econômico e social.
Abre-se o pós-Temer, que a direita pretende que não seja o pós-golpe. A disputa sobre essas alternativas se torna mais aberta e a esquerda intervém firmemente pelas eleições diretas e a retomada da democracia, depois do triste interregno golpista de Temer, o medíocre e breve.


* Sociólogo e cientista político

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