sábado, 27 de maio de 2017

Está escrito



* Por Flora Figueiredo


O papel e eu nos encontramos
hoje, logo cedo.
Falamos de medo
de anoitecer em branco.
Trocamos sentimentos,
sensações
e as várias emoções cheias de tempo.
Sentamos no chão.
Recostamos no canto.
Deixamos um clássico discorrer
livremente
como pano de fundo
e discorremos intensos,
e distendemos imensos
como pano de frente.
Concluímos
que nascemos para viver juntos,
em cumplicidade,
e que nossa identidade
é tão mesclada,
que meus brancos são o preto do papel
e os seus espaços vazios
são a minha cavalgada.
Amalgamados e definidos,
vazios já completos,
receios já discretos,
anoitecemos totais e preenchidos. 


In Calçada de Verão, 1989 


* Poetisa, cronista, compositora e tradutora, autora de “O trem que traz a noite”, “Chão de vento”, “Calçada de verão”, “Limão Rosa”, “Amor a céu aberto” e “Florescência”; rima, ritmo e bom-humor são características da sua poesia. Deixa evidente sua intimidade com o mundo, abraçando o cotidiano com vitalidade e graça - às vezes romântica, às vezes irreverente e turbulenta. Sempre dentro de uma linguagem concisa e simples, plena de sutileza verbal, seus poemas são como um mergulho profundo nas águas da vida. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário