quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Tatoo à direita


* Por Marcelo Sguassábia


Já vou avisando, a quem se interessar, que aqui é tudo de extrema direita. Dos desenhos tatuados até o tatuador, que é membro da Ordem Rosacruz com orgulho e mantém em dia suas contribuições mensais à Opus Dei e à Legião da Boa Vontade.

Levando minhas convicções da ideologia à anatomia, confesso que sinto-me mais à vontade tatuando do lado direito do corpo. Não que eu seja radical. Pelo contrário, sou até bastante complacente: comigo, os esquerdistas regenerados têm a chance de eliminar as bobagens que um dia resolveram estampar na carcaça. Desenvolvi uma tecnologia revolucionária, que permite a reconstituição da pele em sua pigmentação original. A tinta da tatuagem é expelida no máximo em uma semana, deixando todo o corpo livre para tattoos moralmente edificantes, como o Brasão do Exército ou a imortal efígie do General Emílio Garrastazu Médici. Há quem duvide, dizendo que é tudo conversa, que não há nada que remova uma tatuagem bem aplicada. Pois que apareçam por aqui para a prova definitiva - trazendo, de preferência, uma estrela do PT. Adoro exterminar essas estrelinhas, bem como Che Guevaras, Fidéis, foices, martelos e demais ícones inúteis. Aliás, tinta vermelha eu só removo, nunca aplico. Nem adianta insistir, que procure outro profissional. Um leviano e irresponsável profissional, no caso, sem compromisso com o desenvolvimento cívico das novas gerações.

Caveiras, folhas de maconha, dragões cuspidores de fogo, serpentes, símbolos cabalísticos e de magia negra também estão fora do meu mostruário. Mediante aprovação prévia de cada desenho, admito aplicação de flores, ondas do mar, pássaros, símbolos yin/yang, corações, mandalas e frases em geral, dependendo do que o sujeito intenciona colocar como mensagem.

Tattoos nas partes íntimas, nem pensar. São intocáveis. Há que se ter compostura e pudor, ainda que cada um tenha livre arbítrio sobre o que fazer com o próprio corpo. Particularmente, não me presto a esse tipo de serviço.

Chegou a hora de tirar a tattoo dos guetos. Por que não um padre ou um maçom tatuados? Desde que o desenho dissemine valores éticos e cristãos, que mal há nisso? Outro dia mesmo, fiz uma bela de uma Santa Ceia tomando, de fora a fora, as costas do indivíduo. Também tatuei um Rosário em um monge beneditino, começando no pescoço e terminando nos tornozelos. Desviando, logicamente, de quaisquer partes pudendas no percurso.

Pela glória da Pátria e em defesa da manutenção da ordem política e institucional, coloco-me à disposição dos clientes maiores de 21 anos, que apresentem atestado de bons antecedentes e não tenham passagem pela polícia.

* Marcelo Sguassábia é redator publicitário. Blogs: WWW.consoantesreticentes.blogspot.com (Crônicas e Contos) e WWW.letraeme.blogspot.com (portfólio).



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