domingo, 20 de novembro de 2016

Famosos não são corintianos


* Por Fábio de Lima


Calma, caro leitor. Não faça julgamento precipitado. Não quero com esse texto denegrir a imagem do Corinthians ou de qualquer outro time de futebol. Só quero refletir um pouco sobre o status concedido a jogadores de futebol nos últimos tempos. E essa minha reflexão começou na semana passada quando todos os jornais anunciaram que os jogadores do Corinthians não pretendem falar mais com a imprensa até o final do Campeonato Brasileiro.

Tudo foi informado através de um abaixo-assinado com os nomes de todos os jogadores do time e fixado num pedaço de madeira encostada ao tronco de uma árvore na Fazenda Santa Filomena, cidade de Jarinu, interior de São Paulo, e onde o Corinthians treinou durante toda a semana passada. As TVs mostraram as imagens de um monte de jornalistas, na frente da árvore, com os olhos arregalados e a boca aberta, enquanto liam o manifesto. Tudo ridículo do começo ao fim.

O brasileiro Alberto Santos Dumont, inventor do avião, entre outras invenções, inteligente, culto e rico, com certeza não seria um corintiano – visto que atendia jornalistas do mundo todo para explicar suas engenhocas, principalmente, aquela máquina capaz de voar como um pássaro.

O americano Walt Disney, criador do desenho animado Mickey Mouse, entre outros desenhos, inteligente e criativo, com certeza não seria um corintiano – visto que atendia jornalistas do mundo todo para comentar seus desenhos animados – para falar sobre a Disneylândia – e sobre o encanto que seu trabalho gerava nas crianças.

O alemão naturalizado suíço e americano Albert Einstein, inventor da Teoria Geral da Relatividade, com certeza não seria um corintiano – visto que atendia jornalistas do mundo todo para explicar o conceito de que a velocidade da luz é constante em qualquer situação, assim como a importância disso para o avanço da ciência.

O austríaco Sigmund Freud, não se perca pelo sobrenome, psicanalista e defensor de idéias até hoje revolucionárias sobre o inconsciente das pessoas, com certeza não seria um corintiano – visto que atendia jornalistas do mundo todo para explicar o que era Id, Ego e Superego, além das suas teorias sobre sexualidade infantil, repressão, inconsciente e origens sexuais da psicopatologia.

O inglês Alfred Hitchcock, cineasta, considerado o gênio do suspense, ousado como poucos, com certeza não seria um corintiano – visto que atendia jornalistas do mundo todo para analisar o quanto trechos de um filme poderiam fazer daquela produção uma obra de arte, desde que fosse uma “filmagem pura”, com ingredientes técnicos que mexessem com o sistema nervoso das pessoas.

O italiano Luciano Pavarotti, cantor, considerado o maior cantor de ópera de sua época, com certeza não seria um corintiano – visto que sempre atendeu jornalistas do mundo todo para cantar alguns trechos de músicas e demonstrar seu potencial de voz, além da classe em seu jeito de cantar.

A inglesa Virgínia Woolf, escritora que como poucos artesãos da palavra souberam descrever a mulher e, ao mesmo tempo, a importância de fatos corriqueiros da vida, com certeza não seria uma corintiana – visto que atendia jornalistas do mundo todo para conversar sobre seus livros e sobre a importância que dava para a realidade na ficção e para a ficção na realidade.

O brasileiro Edson Arantes do Nascimento, Pelé, o maior jogador de futebol de todos os tempos, mais de 1200 gols marcados, com certeza não seria um corintiano – visto que sempre atendeu jornalistas do mundo todo para comentar suas jogadas e conversar sobre sua maior paixão, o futebol.

Portanto, quando deparei com a notícia do boicote das palavras dos “famosos” jogadores de futebol do Corinthians para com a imprensa, fiquei estarrecido. Não pelo que eles deixariam de falar – mas pela total falta de importância do que eles falam diariamente. Penso que a imprensa deveria unir-se (sei que isso é utópico) e ela fazer questão de não ouvir o que esses “famosos” inúteis têm para falar. Afinal, os famosos não seriam corintianos – nem palmeirenses – são-paulinos – santistas ou afins. Famosos são gênios e jogador de futebol, falando ou mudo (dá na mesma), não é ninguém.

(*) Jornalista e escritor ou “contador de histórias”, como prefere ser chamado. É Diretor de Programação da CINETVNET (www.cinetvnet.com.br), TV pela internet. Está escrevendo seu primeiro romance, DOCE DESESPERO.

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