sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Assalto à mão armada

* Por Leonardo Marona


suando e tremendo e sinta só meu coração valente
escorrendo a beleza única dos olhos vidrados
quero escrever teus ossos tua carne e pelos
preciso romper na tua carne o prazer do dia
tuas costas teus ombros teus dedos olhos nariz sobrancelhas
e meu deus esqueça as linhas exatas quero ser atropelado
e fazer torta minha estrofe ansiosa de margens
curta e longa e curta e longa como nosso ritmo é preciso
variar através dos tempos porque agora aqui é o início dos tempos
quero que um carro me atropele
quero que um cachorro morda meu tornozelo com raiva
quero cair do mais alto penhasco
quero colocar pedras nos bolsos e submergir no rio
quero um tiro no peito e gritar ó minha dulcinéa!
e te juro meu amor eu cairei sorrindo e te darei meus dentes
e gengivas e sexo e pudor e sorrisos tímidos eu te darei a mim
eu quero te engordar eu quero te engordar eu quero te engordar
eu quero rasgar esta página e fazer com ela pássaros sombrios
algo precisa acontecer uma catástrofe
ou do contrário estarei apaixonado
e apaixonado você disse para isso não é preciso muita coisa
uma aqui outra ali mas que se dane como é isso
o que é preciso é preciso ou do contrário...
afogado em banheira de hotel congelado em desamor russo
é preciso que de alguma forma eu me desintegre
e retome o espírito ancestral sem causa e com fome
mas eles chegaram finalmente os homens com trabucos
eles não pediram identidade ou permitiram o desejo final
entraram e eram finalmente os piedosos em ação
a gente vai se tornando a gente muito lentamente
não dá tempo de mudar nada eu pensei quando o tiro
finalmente me fez em vermelho e eu estava com flores para ti.

* Poeta e escritor.


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