segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Vestida de poeta


* Por Arita Damasceno Pettená


Vou me vestir de poeta
e vou sair por aí...
Sobre os olhos... uma venda.
Não mais o mundo de frente,
não mais o confronto,
não mais o conflito
e nem mesmo o grito dos aflitos.
No ouvido um “walkman”.
E deixa Adoniram rebolar:
“Saudosa maloca,
maloca querida...”
E eu? onde estou?
Vestida de poeta,
sonhando sonhos ao luar.
No porto um velho marujo:
“Parto... não sei se parto...”
Do outro lado da praia,
Maria com dores de parto:
“Esse bebê nasce ou fica na barriga?”
Desembestou... Virou homem...
Virou fera... Virou coisa ruim...
E eu? onde estou?
Vestida de poeta...
mordaça na boca,
não falo... não choro... não rio...
Somente o gosto amargo de ser!
- Cadê o cheiro da rosa?
Aromatizou-se no ar.
Fez-se essência de perfumes,
bálsamo de cicatrizes.
E eu? Onde estou?
Vestida de poeta.
Algema nos punhos,
não mais o delírio dos versos,
apenas o universo em chamas.
E quem me chama?
A vida... o amor... o devaneio...
E ele não veio?
Veio. E se fez homem
para despir a mulher
que se vestiu de poeta
a galopar num corcel
pelos caminhos do sonho.

* Arita Damasceno Pettená é poetisa, professora, escritora e membro da Academia Campinense de Letras.



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