segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Danda


* Por Núbia Araujo Nonato do Amaral


Danda nasceu num dia de sol como tantos outros o são. Chorou e esperneou como tantos nascidos naquele dia. Sugou as tetas da negra velha como bicho faminto; a mãe ficou no catre por inanição. O pai sumiu na vida, expulso por diferenças religiosas.

Danda cresceu que nem bichinho que se prostra de rabo encolhido esperando um naco de pão.

Um dia a chuva desabou revoltada, ferida, arrastou tudo lambendo as chagas da terra. O vilarejo sumiu apagando a miséria nos olhos daquele povo que já estava oco por dentro.

Danda se foi, nenhum grito, nenhuma lágrima, nenhuma dívida.

* Poetisa, contista, cronista e colunista do Literário


Um comentário:

  1. Lembrei-me de Mariana, da Samarco, e também de um meu vizinho que foi enterrado sem choro.

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