quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Bendita rotina!


A maioria das pessoas que conheço, e com as quais convivo, queixa-se, amiúde, da vida rotineira que leva. As reclamações vão desde o trabalho realizado, que não seria o de seus sonhos, ao casamento, que caiu na monotonia e não raro acaba desfeito, com rusgas, ressentimentos, mágoas e sofrimentos para todos os envolvidos. E as queixas não param por aí. Passam, ainda, desde o tipo de lazer que os queixosos têm à disposição, aos seus relacionamentos de amizade. E vão por aí afora.

Essas pessoas, no entanto, reclamam, reclamam, mas não movem uma só palha para promover benéficas mudanças em suas vidas. Conformam-se com o cotidiano banal, sempre igual, rotineiro e sem graça. Mas seria mesmo assim? É possível que todos os dias sejam, de fato, “iguais”, ou pelo menos parecidos? Claro que não! Em alguns, por exemplo, o sol brilha intenso e, em outros, chove. Uns são de verão, com calor sufocante e, não raro, com chuva no final do período; outros, são de inverno (ou de primavera, ou de outono), mais frescos ou até mesmo gelados. Já aí há uma impossibilidade da existência de rotina, monotonia, marasmo.

Ademais, por mais rotineiro que seja o trabalho que a pessoa exerça, todos os dias têm coisas novas acontecendo. Basta que se esteja atento para identificá-las. São, em geral, pequenos incidentes diários (positivos ou negativos), mas que marcam nosso cotidiano. Ora é o chefe, que dá uma bronca homérica, que a pessoa que a recebe invariavelmente considera injusta, mesmo tendo cometido algum erro ou se mostrado impontual, ou desatento ou improdutivo. Ora é um colega que nos ajuda (ou nos atrapalha). Ora somos promovidos, ou preteridos numa promoção, dependendo do nosso empenho profissional, capacidade e utilidade na empresa. E, quando somos demitidos... aí sim, há uma quebra violenta de rotina. Essa mudança, porém, ninguém aprecia. Não há, pois, dois dias rigorosamente iguais.

O mesmo ocorre em casa, na escola, nos encontros com os amigos, com namoradas e em outros tantos atos da vida. Da minha parte, confesso, gosto da rotina. E vou mais longe: eu mesmo estabeleço uma, no meu dia a dia, para organizar e gerenciar tudo o que preciso fazer. Sou uma pessoa extremamente metódica (meus críticos garantem que até exagero e que sou obsessivo) e busco racionalizar meu tempo, que é o grande capital de que disponho.

E como é essa minha rotina diária? Revelo-a, sem pudor, até para atender a dezenas de pedidos, feitas por leitores, curiosos em conhecer um pouco mais a meu respeito. Como não tenho o que esconder, lá vão alguns detalhes de como é meu cotidiano. De antemão reconheço que falta espaço para a vida social. Mas quando temos algum  objetivo que lutamos para alcançar, alguma coisa sempre acaba sendo sacrificada. Afinal, um dia tem, somente, dezesseis horas úteis, e nem um segundo a mais. Minha rotina matinal permanece a mesma há já quase um quarto de século. Já a vespertina, que era uma até 2013, é bem outra nestes quase três últimos anos. Aliás, em 2007 já descrevi como ela era então. De lá para cá, a rigor, pouca coisa mudou. A maior mudança é que troquei as atividades jornalísticas pela dedicação exclusiva e integral à Literatura. A parte da manhã não teve nenhuma alteração. Continuo acordando, sempre, invariavelmente, na mesma hora, seja dia útil ou final de semana, ou então, feriado. E cumpro todo um ritual, o mesmíssimo por anos e anos, no mínimo trinta. E ai daquele que me obrigue a deixar de cumprir um único ponto desse rito pessoal e cotidiano!

Após despertar, dedico cinco minutos para meditação. Abstraio-me dos problemas e fixo-me num só tema, que analiso ângulo por ângulo. Antes, leio algum poema, ou trecho já marcado de algum livro, para balizar tais reflexões. Feito isso, antes mesmo da higiene pessoal, tomo uma xícara de café preto, bem forte, que me desperta de vez, e cuido da aparência. Tomo banho, faço barba, escovo os dentes, penteio-me e quando termino, estou prontinho para começar a jornada diária. Infelizmente, tenho o mau-hábito (diria, péssimo) de não me alimentar pela manhã.

O passo seguinte, pois, é ler os jornais do dia (pelo menos três impressos e outro tanto da internet) e comparar a edição de cada um deles. Faz parte da minha profissão, embora esteja afastado dela há já quase três anos! Sou editor há mais de quatro décadas e ainda considero-me como tal! Asseado e bem-informado, ligo o meu computador, para conferir a correspondência eletrônica. Separo os e-mails que precisem ser respondidos, arquivo os importantes e “deleto” (desculpem-me o neologismo, que já se incorporou à nossa linguagem comum) os spams e tantas outras bobagens que enviam para a minha caixa postal. De 2006 a 2009, era uma rotina nessa parte do dia. De 2009 a 2013, passou a ser outra. E de 2013, aos dias de hoje, é uma terceira, um tanto diferente das outras duas.

De 2006 a 2009, tão logo conferia a correspondência eletrônica, encaminhava, à redação do Comunique-se, os textos dos colunistas-fixos do dia (que eram três de cada vez) e dos colaboradores  eventuais (dois diariamente) para o “Literário”, do qual era (e ainda sou) o editor. Na ocasião, esse espaço era uma das seções desse prestigioso portal jornalístico. Esse  material era devidamente revisado e editado e só então remetido ao Comunique-se. A partir de abril de 2009, o “Literário” ganhou autonomia e foi transformado num blog autônomo. Sofreu algumas alterações pontuais conservadas até hoje, quando está próximo de completar onze anos ininterruptos (o que irá ocorrer em 27 de março de 2017).

Mas o passo seguinte não sofreu nenhuma alteração. É o da postagem da crônica, de um artigo retirado do meu arquivo jornalístico e da reflexão diária, redigidos previamente na véspera, no meu blog “O Escrevinhador”, espaço que trato com o maior carinho e atenção e que mantenho desde dezembro de 2006, com postagens rigorosamente diárias. É voltado exclusivamente à minha produção (literária e jornalística). O passo seguinte, até 2010, era acessar o extinto Orkut. Postava, então, na comunidade criada em minha homenagem. uma meditação e, eventualmente, algum texto mais extenso, sempre de caráter literário, antes de conferir os scraps recebidos, que respondia à noite, quando retornasse do trabalho. A partir de 2010, até hoje, só mudei mesmo a rede social. O Orkut foi substituído pelo Facebook.

O passo seguinte era (e ainda é) a redação de crônicas novas (geralmente, escrevo duas por dia), que eram e que são enviadas aos dez sites da internet em que sou cronista fixo. A esta altura, já são 16 horas. Até 2013, era o momento de me aprontar para cumprir minha jornada diária na redação do jornal (ou dos jornais) em que então trabalhava como editor, que, não raro, entrava pela madrugada. Desde 2013, quando passei a gozar efetivamente da minha aposentadoria (aposentei-me em 1997, mas continuei trabalhando, com registro em carteira, recolhimento de INSS e tudo mais, por dezesseis anos, enquanto a lei me permitia), esse passo não é mais necessário. Não tenho mais que ir a lugar algum. .

Naquela época, ao voltar para casa, tomava um banho morno e relaxante, jantava e partia para a última etapa da minha rotina. Respondia, rigorosa e meticulosamente, todos os e-mails recebidos, fazia a programação para o dia seguinte e editava os textos que seriam postados na próxima manhã no “Literário”. Hoje (desde 2013) não preciso mais disso. Não saio de casa para absolutamente nada. Depois da janta, portanto, além de responder os e-mails que têm que ser respondidos, dou uma última passada no Facebook e no Twitter e só então, desligo o computador. Ufa! A jornada chegou ao fim! Da obrigação, parto, de imediato, para a satisfação.

Depois de ler, por cronometrada e exata meia hora, algum livro selecionado na véspera, dou por encerrada a jornada que tanto me satisfaz. Vivo para isso. Vem, então, o melhor momento do dia. Ou seja, aquele em que dou a devida e plena atenção à amada esposa, com a qual sou casado há 42 anos, que me acompanha, estimula e compreende e que tem a imensa paciência de esperar que eu cumpra, rigorosamente, sem deixar de fora nenhum passo, a minha estafante, mas bendita rotina. Cumprida a obrigação conjugal (que, claro, é a coisa mais prazerosa de todos os meus dias e da minha vida inteira), faço uma breve oração e... durmo. De imediato, como uma pedra! E sem necessidade de nenhum sonífero ou calmante! Afinal, ninguém é de ferro, não é mesmo?! O meu dia é chato? Provavelmente o leitor dirá que sim! Mas não troco essa “chatice” por nada deste mundo. Bendita rotina que me organiza, me fortalece e me mantém lúcido, saudável e vivo!

Boa leitura!

O Editor.

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