terça-feira, 26 de julho de 2016

Pílulas literárias 234

* Por Eduardo Oliveira Freire


MONSTRO

Quando era muito criança via um monstro em cima de sua mãe e ela gemia bastante. Parecia que sentia muita dor. Ele ficava apavorado, mas voltava para o quarto rezando para que o pai voltasse logo do trabalho. Ao amanhecer, corria para ver a mãe e se aliviava de ver os pais dormindo abraçados na cama. Subia e ficava entre eles. Alguns anos depois, já adolescente, transou pela primeira vez com a namorada e, no auge do gozo, compreendeu que o monstro que afligia a mãe era o pai, na verdade.

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BALA PERDIDA

A vidraça da janela é estilhaçada e a bala atinge a jovem que está no quadro. Seu amante fica transtornado ao ver sua amada agonizando. No dia seguinte os jornais dão a seguinte notícia: “Homem desesperado corre por todos os hospitais com um quadro atingido por projétil de arma de fogo, alegando que a mulher da pintura está correndo risco de morte”. A suposta cabeça da modelo é do quadro “A Origem do Mundo” de Courbet.

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IMAGINAVA-SE...

... ser um assassino implacável. Mas, quando viu o vizinho esfaqueado, percebeu que lhe bastava matar pessoas inventadas.

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EMOÇÃO DESNUDA

Mesmo que a bailarina esteja embaçada por causa de sua memória em degeneração, ainda consegue se emocionar com seu bailar. Perguntam por qual motivo chora, mas não consegue vestir a emoção com as palavras para explicar.

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MOMENTO DECEPÇÃO

Fiquei inspirado em escrever um conto e usei toda minha criatividade para torná-lo original. Terminado, publiquei-o no blog e no face, todo prosa, por ter escrito uma história com um final surpreendente. Porém, horas depois, descobri que desenvolvi um conto muito parecido recentemente.

É foda as armadilhas da memória! Quis deletar um a princípio, aí, pensei melhor e resolvi deixar os dois. Para quê esta ânsia artística de originalidade ou conquistar valor artístico no que escrevo? Tudo bem que desejo ser escritor, mas, ficar obcecado pelo prestígio, deixarei de curtir de escrever despretensiosamente pela busca da minha forma de me expressar.

Já escrevi tanta besteira que me envergonho. Na época, achava que produzi verdadeiras obras-primas. Entretanto, valeu em escrever estes textos sem valor literário. Compreendi que preciso ler e escrever mais, nada é fácil nesta vida.

Inclusive, descobri que escrever me liberta, pois, leva-me aos recantos da imaginação e do inconsciente. Se parar para pensar, foi um ganho enorme para mim, mesmo que nunca seja um escritor renomado ou um integrante na Academia Brasileira de Letras.

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* Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural e aspirante a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/


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