domingo, 24 de julho de 2016

O efeito sem causa


* Por Rosana Hermann



De repente, do nada, sem nenhum aviso, o acaso vem e zás! E lá está, a flecha no seu peito. A torta na cara. A pedra no sapato.

Ter um blog aberto na rede é aceitar o risco de ser alvo de um sniper, um figurante vestido de índio, um confeiteiro sem fronteira. Mais dia menos dia, acontecerá. Com ou sem motivo, conhecendo ou não o ofensor você será atacado. Como dizia Nelson Rodrigues, é batata.

A explicação não é dramática mas estatística. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde cerca de dez por cento da população do planeta tem algum tipo de doença mental. Pode ser uma depressão inofensiva, uma esquizofrenia, um transtorno bipolar, tanto faz o diagnóstico. Vale lembrar que ninguém tem culpa de ser doente e todo mundo passa por fases difíceis. Atire o primeiro mouse quem nunca teve vontade de destruir alguém na rede.  Fato é que, se mil pessoas entrarem em contato com você, via blog, email ou comunicador instantâneo, cem poderão ter algum problema psiquiátrico. Não é difícil compreender que um paranóico qualquer identifique você como inimigo a ser destruído. Isso sem contar todos os problemas de caráter que afetam boa parte da população.

O problema é que, quando acontece, irrita. Enche o saco, porque os padrões são sempre os mesmos. Tem a pessoa que confunde erro de digitação com erro de português, tem o chato que acompanha sua vida com lente de aumento e fica à espreita no aguardo de qualquer deslize para dar o bote com seu ‘ah há!’, tem o anônimo despeitado que entra no blog não para falar com você mas de você, como se os outros leitores fossem parte de uma platéia para seus muxoxos. Tem o agressivo patológico, tem o covarde pentelho, tem o chato impertinente. Embora constantes e inevitáveis todos esses casos compõem uma minoria. Em geral, a relação entre blogueiros e leitores é muito boa, mesmo porque muitos leitores também são blogueiros e, neste caso, estamos navegando no mesmo barco.

Reme em frente. Divirta-se. Esqueça. Releve. Deixe passar. Os cães ladram, a caravana passa, os posts descem, os comentários somem, a Internet cai, o saco esvazia e a longo prazo, estaremos todos vendo a grama crescer pela raiz.

*Rosana Hermann é Mestre em Física Nuclear pela USP de formação, escriba de profissão, humorista por vocação, blogueira por opção e, mediante pagamento, apresentadora de televisão.

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