segunda-feira, 18 de abril de 2016

Esquerda direita, volver

* Por Assionara Souza


Alguns acontecimentos são extremos
A não ser que você esteja olhando pra cima
Olhar pra cima é evitar
Que o acontecimento escorra para um dos extremos

O extremo da direita é execrável
O extremo da esquerda é igualmente execrável

Os que visam à direita
Estão de costas para esquerda
Tem um saco de pedra diante deles
Abaixam-se para alcançar uma pedra
E jogá-la pelas costas com toda força
Atingindo a cabeça dos da esquerda

Os que visam à esquerda
Estão de costas para direita
Tem um saco de pedra diante deles
Abaixam-se para alcançar uma pedra
E jogá-la pelas costas com tora força
Atingindo a cabeça dos da direita

A corja dos extremos
Uiva raivosa ao surgir à sua frente
Algum da direita ou da esquerda
Não ouve com os próprios ouvidos
Não anda com as próprias pernas
A fala que sai de sua boca
Reverbera o grito louco
Contra esse, esse e aquele
Que não seja do seu bloco

Ao completar 16 anos
Ganhe o seu saco de pedra
E comece a treinar lançamento
Para a esquerda ou direita

A menos que você olhe pra cima
E evite tomar partido
Sem atirar pedras
Nem para esquerda ou para direita
Enxergará a melhor pessoa
Até que os partidos tenham partido

* Escritora potiguar que nasceu em Caicó/RN, em 1969, mas mora em Curitiba/PR. É doutoranda em Estudos Literários pela UFPR, onde pesquisa a obra de Osman Lins. “Cecília não é um cachimbo” (7Letras/2005) é sua obra de estreia na literatura. Publicou, também, o livro”Amanhã. Com sorvete!”.



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