sábado, 30 de abril de 2016

Dois dedos de prosa

* Por Clóvis Campêlo


Como dizia a minha avó, quem com porcos se junta, farelo come! Talvez tenha sido esse o caso do Partido dos Trabalhadores ao chegar ao poder.

Em nome de uma suposta governabilidade, virou as costas aos movimentos sociais e populares que sempre o apoiaram e fomentaram o seu surgimento, para fazer acordos com setores da sociedade que sempre se prevaleceram da estrutura do poder para se locupletar. E parece que a lição da esperteza foi aprendida por alguns petistas. Assim, o partido descaracterizou-se e perdeu a sua identidade. Não foi a toa que ao ser solto, depois de ser sequestrado sob as ordens do juiz Sérgio Moro, o ex-presidente Lula, no seu pronunciamento, fez uma exortação ao retorno do partido àquela posição de questionamento e representatividade política. Já era tarde, porém, e a vaca já estava indo para o brejo.

Isso também ficou claro quando no dia anterior à votação do impeachment, no ato de Brasília, os representantes do MTST e MST reivindicaram a retomada das propostas reformistas, por parte do Governo Dilma, mostrando a todos nós que a apoio não era mais incondicional e que, mesmo com a vitória de Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados, o que não ocorreu, no dia seguinte estariam nas ruas retomando a luta daquelas entidades.

Mesmo assim, foi com eles e outros setores de vanguarda dos movimentos sociais, que o PT e o Governo Federal contaram na hora em que precisaram de apoio popular. Hoje, a possibilidade do afastamento de Dilma da presidência da República é mais do que concreta. Como disse o escritor Ruy Castro em um artigo publicado na Folha de São Paulo, a presidenta abusou da arte de se cercar de gente traidora e calculista, a começar pelo próprio vice-presidente da República.

A situação pode ser vexatória, já que a presidenta pode ser afastada do cargo sem provas efetivas de que tenha cometido crime de responsabilidade. Ironicamente, poderá vir a ser afastada por ter feito exatamente a mesma coisa que os seus antecessores fizeram. Isso demonstra que, acima de tudo, o impeachment é político e está sendo comandado até o momento por políticos envolvidos em escândalos financeiros, alguns até já indiciados em processos de corrupção.

A politização, porém, não se limita apenas às instâncias parlamentares. No Poder Judiciário também se observa claramente as tendências políticas de cada juiz ou tribunal. E embora do ponto de vista pessoal eu ache justo que cada pessoa possa ter as suas opções e escolhas, no exercício do cargo deveria prevalecer, porém, apenas as questões técnicas e legais. As decisões deveriam ser baseadas na legislação e nas jurisprudências deixadas por decisões anteriores. Não é isso o que se observa, porém.

Acredito que todo esse movimento tem apenas a intenção de apear o PT do poder. Penso que após o impeachment será feito um grande acordo de “paz”, jogando-se mais uma vez para debaixo do tapete irregularidades comprovadas ao longo de décadas.

O que já se convencionou chamar de “luta seletiva contra a corrupção” teria apenas a intenção de atingir o Partido dos Trabalhadores e teria sido estabelecido pela CIA americana (essa teoria foi defendida pelo jornalista Paulo Henrique Amorim), preocupada com a hegemonia do pré-sal e com os rumos que a política externa brasileira estaria tomando.

Recife, abril 2016

* Poeta, jornalista e radialista.


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