quinta-feira, 31 de março de 2016

Alexia: como ela surgiu


* Por Fernando Yanmar Narciso


Os primeiros esboços do que viria a se tornar a personagem Alexia surgiram nos cantos de cadernos de colégio pelos idos da 8ª série. Naquele tempo eu e meu colega Filipe Xavier tínhamos uma parceria, fazíamos histórias em quadrinhos que ninguém conseguia entender, nem nós mesmos...

Na época éramos grandes fãs dos Simpsons e de todas suas imitações, então criamos nossa própria cidade e a enchemos de gente doida. Hey, Scum City!- Esse era o nome. No início Alexia surgiu como uma mera coadjuvante na vida de dois irmãos, Jack e Mad, e era basicamente só uma eye candy com seios enormes. Em vez de Alexia, seu primeiro nome era Claire, a quem Filipe rebatizou como Reckenville, ou Recken para os íntimos.

Infelizmente repeti o ano no 1º Científico e minha parceria com Filipe terminou, mas não a vontade de criar minha perfect girl. Na época comecei a desenhar mangá, desenhos japoneses, e com eles a figura de Recken foi se aperfeiçoando cada vez mais. Claro que os seios enormes permaneceriam como sua principal característica. Garotos são sempre garotos...

Roupas coladas ao corpo, tatuagens, mania de usar tênis vermelhos... Em algum ponto ela já teve dreadlocks alaranjados com duas mechas tingidas de verde. Como Filipe era fissurado pelo Nirvana na época, fiz da Recken também uma tiete do Nirvana e lhe dei uma tatuagem da letra N.

Em 2001 ela ganhou suas principais vestimentas: calças jeans skinny e um lenço na cabeça, inspiração que veio, acreditem ou não, da antítese de Kurt Cobain: Axl Rose.

No entanto os anos foram passando e minha paixão por essa Alexia seminal foi se arrefecendo, afinal eu tinha uma personagem, mas não tinha sua personalidade e nem outros personagens. Naquele tempo já havia aberto mão de todos aqueles outros personagens e me concentrado só nela. 2005 foi o último ano do reinado de Recken...

Numa tarde tediosa como todas as outras de 2010, me veio a ideia de ressuscitar não apenas ela como toda a turma dos cadernos de colégio, mas em forma de romance. Na época, por motivos inexplicáveis tinha voltado a assistir a novela das nove, e conforme assistia eu ficava pensando ‘se esses autores recebem fortunas pra escrever essa porcaria, eu também consigo!’

Assim surgiu Os Excluídos, mais tarde rebatizada como Terra De Excluídos. O primeiro passo foi tirar os personagens, típicos dos filmes da rota 66, e trazê-los para um cenário no interior de Minas Gerais, inspirado nos contos de Dias Gomes. Seriam três anos de dedicação total a mais de 300 páginas de desventuras.

Logo Recken foi renomeada Alexia, em homenagem a uma colega de faculdade, Alexia Ballesteros, muito amiga minha. De multicoloridos seus cabelos passaram a ser volumosos e ruivos, referência às personagens Caitlin Fairchild dos quadrinhos Gen 13 e à Bloom de Clube das Winx. Sempre fui fascinado por ruivas... Em vez da bandeira americana lhe dei uma bandana de pirata, com crânio e guitarras cruzadas. Cabelos indomáveis e um lenço invocado na cabeça formam a expressão perfeita de sua personalidade rebelde.

Na hora de vestir a personagem eu fiquei meio perdido, até que no jornalzinho da faculdade minha grande amiga Laisa Bastos fez um ensaio fotográfico usando uma camiseta baby-look amarela com regata roxa por cima... E eu pensei: ‘Quer saber? Alexia é Laisa e Laisa é Alexia. Pronto!’ Assim minha heroína virou não apenas minha perfect girl como uma caricatura de minha amiga.

Então, como poderia definir minha magnum opus? Alexia é o que costumavam chamar de slacker nos Estados Unidos da década de 1990, os jovens acomodados que chegavam à idade adulta vivendo com os pais e passavam os dias trancados no porão assistindo à MTV e jogando videogame, ao melhor estilo Beavis & Butt-head. Para eles a vida simplesmente passava diante de seus olhos como num videoclipe sem fim.

A diferença sendo que em vez de uma imprestável Alexia é uma moça que simplesmente não tem grandes ambições. Esperta, desapegada, sem muitos amigos e que quando não está trabalhando passa os dias tocando guitarra, compondo e escrevendo em seu blog. Mesmo sendo reservada, sua aparência é garantia de que nunca passará despercebida. Ela vê sua beleza como um fardo.

Como eu, ela tem a mania de analisar excessivamente e ironizar qualquer situação, por mais mundana que seja. Humilde, sempre ali pra te ouvir, apesar de ser meio caladona e fingir não se importar com as pessoas. Algumas feministas dirão que ela não devia ser tão eye candy, mas defender os direitos das mulheres não é desculpa para não ser atraente.

Toda boa personagem precisa de uma boa parceria. Sempre tive uma ligação muito forte com meus primos, talvez os únicos amigos de verdade que já tive, então decidi que a melhor amiga de Alexia seria sua prima, Bárbara. A relação entre Alexia e Bárbara é meio que inspirada num trio de colegas de faculdade que sempre estavam juntas, e na relação de minha mãe com sua amiga, Dulce, sendo que a personalidade da Barbie é um papel-carbono da própria Dulce.

E em 2015 resolvi promover minha musa a narradora, contando os ocorridos de Terra De Excluídos em 1ª pessoa, com seu ponto de vista peculiar. É até irônico que o relacionamento mais longo de minha vida seja com uma mulher que nem existe no mundo real... Well, patience, como a própria diria.

* Escritor e designer gráfico. Contatos:
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Conheçam meu livro! http://www.facebook.com/umdiacomooutroqualquer

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