domingo, 27 de março de 2016

A peste bubônica é doença do passado?


A peste bubônica é, disparadamente a doença que mais mortes causou ao longo de milênios (não se sabe quantos) e cujo agente causador sempre esteve e (ainda) está presente em todos os continentes da Terra, à exceção da Oceania, Todavia, infelizmente, não pode e nem deve ser considerada coisa do passado. Isso, a despeito de toda a evolução da Medicina e das ciências correlatas (Biologia, Citologia, Virologia etc.etc.etc.) verificadas neste início do século XXI.

Por que afirmo isso com tamanha convicção, quando se sabe que há, inclusive, vacinas “quase” 100% eficientes para prevenir sua ocorrência? Por uma série de razões. Uma delas, talvez a principal, é o fato de existirem cepas resistentes a todas as formas de prevenção e de tratamento  conhecidas. Por conseqüência, nesses casos, os imunizantes são absolutamente ineficazes. O jeito é cuidar de evitar a proliferação de ratos negros, portadores da pulga transmissora da bactéria que causa a peste. E esta não é tarefa fácil, como possa parecer aos desavisados.

Embora a imprensa não divulgue, quem acompanha o noticiário da Organização Mundial de Saúde pode constatar que esse órgão da ONU registra milhares e milhares de novos casos da doença a cada ano. É certo que a mortalidade não é nem de longe parecida com o que ocorria até o finzinho do século XIX quando se deram duas descobertas fundamentais para evitar as sucessivas epidemias e até mortais e avassaladoras pandemias.

O primeiro grande feito da ciência, no que se refere à doença, se deu em 1894. A façanha coube ao bacteriologista francês, Alexander Yersin. Foi ele que descobriu o bacilo causador da peste negra, que logrou isolar. Esse agente patogênico foi “batizado” com o nome de “Yersinia Pestis” em homenagem ao sdeu descobridor.

Tratou-se, sem dúvida, de um passo importante para combater o flagelo que tanto mal causou à nossa espécie, mas não era, ainda, sequer a solução parcial do problema. Faltava determinar o principal: como essa bactéria era transmitida ao homem. Era pelo ar? Era pela água? Era por algum alimento? Não se sabia. Isso só ficou claro quatro anos depois, em 1898.     Foi quando outro francês, Paul-Louis Simond, demonstrou que a bactéria causadora da peste era transmitida às pessoas pela pulga que infesta, que parasita ratos negros, cuja taxa de natalidade é simplesmente explosiva, sobretudo em regiões com fartura de bambus (notadamente em vastas regiões da Ásia, mas não só nelas) de cujas raízes os assustadoramente prolíficos roedores se alimentam.

O conhecimento do seu agente patogênico e do vetor responsável por sua transmissão não é nenhuma garantia de que a humanidade, finalmente, ficou livre desse flagelo. Se assim fosse, o Brasil não estaria encarando a epidemia, por exemplo, da dengue, que já dura mais de vinte anos, com manifestação crescente de ano para ano. Afinal, conhecem-se os vírus que produzem tanto essa doença, quanto a chikongunia e o zika. Sabe-se que todos eles são transmitidos pelo mosquito Aedes Aegypti (tão prolífico quanto o rato negro). Mas, até aqui, os agentes sanitários têm se mostrado absolutamente impotentes para acabar, ou pelo menos para controlar em níveis bastante baixos, esses males. O mesmo ocorre, posto que pouco divulgado, com a peste, através do mundo. Se não forem seguidas estritas normas de higiene, essa doença (e também, claro, a dengue, a chikongunia e o zika) continuarão a ameaçar a humanidade. Exagero? Antes fosse!!!

A OMS não cansa de alertar que os casos de peste bubônica, que quase eliminou nossa espécie da face da Terra em 1347, seguem aumentando teimosamente, de ano para ano. E isso, em pleno século XXI, com tantas, tamanhas e tão acessíveis maravilhas tecnológicas em todos os campos de atividade (sobretudo, no da Medicina).

Recomendo, a quem tenha dúvidas a respeito e ache que estou sendo alarmista, que leia o livro “Pourquoi la peste? Le rat, la puce et le bubon” (“Por que a peste? O rato, a pulga e o bubão”), da dupla francesa Jacqueline Brossollet e Henri Mollaret. Não sei se a obra já foi publicada em português. Desconfio que não. O que, porém, preocupa, e muito, é esta conclusão dos autores: “Longe de ser uma doença da velha Europa da Idade Média, infelizmente, talvez a peste seja a doença do futuro”. Só não será, acrescento, se a população de ratos negros e das pulgas que parasitam esses roedores for controlada e, talvez, eliminada. Mas... como?!!!

Boa leitura.


O Editor.

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