quinta-feira, 31 de março de 2016

A felicidade


* Por Alberto Cohen


O mais engraçado é que, dando de encontro com a felicidade, emudecemos ou pedimos desculpas. Emudecemos frente ao inesperado de sua chegada, pedimos desculpas por não estarmos preparados para recebê-la. E ela apenas sorri. Já viu a mesma cena milhões de vezes em sua trajetória, esse não saber o que fazer com ela, a hesitação entre abraçá-la ou pedir que sente na sala, enquanto a roupa de usar em casa é trocada por outra melhor.

E é muito afobada, a felicidade. Não pode perder tempo, pois tem tantas outras visitas e partidas repentinas a fazer no seu dia-a-dia de médica da alma, que salva ou desengana, devolve a saúde ou reconhece a doença incurável e vai embora sem ao menos confortar o doente. E depois que parte não há maneira de localizá-la. Não deixa endereço, telefone nem e-mail.

Interessante é que o tempo de sua visita é contado em leves e brilhantes segundos, enquanto o da ausência é conferido em séculos pesados e soturnos. É de notar, porém, que, nos poucos instantes em que está presente, pinta a casa de cores alegres e claras e decora todos os compartimentos com sorrisos fáceis. Depois de sua partida, lentamente o cinzento volta a predominar e os sorrisos são banidos pelas sobrancelhas franzidas.

E aqui ficamos nós a esperar, como ela queria, sempre na expectativa de que volte, mande um recado, enfim, dê sinal de vida. Cada vez que batem à porta é aquele sobressalto: Será que é ela que está voltando? Dificilmente, pois, como foi dito acima, é muito ocupada, tem muitos clientes, assim... Esperem um instantinho, que a campainha está tocando! Será...?

* Poeta e cronista paraense


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