quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Fernando Spencer Hartmann

* Por Celso Marconi Lins


Jomard dizia que nós éramos sócios. E éramos mesmo. No tempo em que o jornalismo fazia questão do ‘furo’ nós pouco ligávamos para essa estória. A notícia de um passava imediatamente para o outro. E íamos entrevistar o pessoal sempre juntos sem nenhum mistério. Toda atividade que Fernando fazia tinha que ter a minha presença e o mesmo comigo. Quando eu voltei da China uma reportagem sobre o cinema de lá foi publicada numa revistinha que Spencer publicava.

Começamos a fazer ‘cinema de arte’ na sala do Soledade pois o padre que era vigário da igreja era o Monsenhor Salles, que era meu professor de Filosofia na Faculdade ao lado. Spencer começou a fazer cinema com “A Busca” com ajuda de José Ronaldo Gomes que então era o gerente da Severiano Ribeiro e nosso amigo. E fui algumas vezes para as filmagens no Barro. Também fui lá para Goiana quando Fernando fez “A Banda” e fui o personagem do velho. Ivan Soares também era nosso aliado e íamos juntos muitas vezes para o bairro do Recife onde estavam os escritórios das distribuidoras de cinema atrás de filmes para exibir no ‘cinema de arte’. Muitas vezes íamos para a sala da Severiano para entrevistar cineastas.

Minha amizade com Spencer começou nos anos 50. Quando houve o golpe de 64 fiquei sem trabalhar até 66 pois havia a ordem do 4º Exército aos jornais para não empregar ninguém que tinha trabalhado na Última Hora. Em 65 teve um Festival Internacional de Cinema, no Rio, e Fernando conseguiu no Diário que eu fosse incluído como credenciado para representar o jornal e assim fomos juntos. Foi lá a única vez que eu falei pessoalmente com Glauber. Numa festa em pleno Copacabana Palace. E eu e Spencer, dois paus-de-arara nela, vestidos de smoking! Fomos amigos de um japonês do Consulado do Japão, Akira Kaguesato, que trazia vários anos uma mostra de filmes de sua terra e a gente exibia no Coliseu, no Parque… A gente eu e Spencer discordava muito mas era uma discordância que nunca nos levava a brigar. No fim da vida a gente ficou mais distante mas a ligação continuava muito próxima.

Spencer também era de esquerda como eu mas não se expressava muito claramente, era seu jeito. Lembro quando Aluísio Falcão foi candidato a Presidente do Sindicato dos Jornalistas eu fui várias vezes à casa de Spencer para quase impor a ele votar em Aluísio e terminamos ganhando.

Fernando Spencer deixou três filhos com Áurea e três filhos com Inês. E muitos netos. A última vez que falei com ele foi por telefone e ele estava muito cansado. Eu me sinto muito menor sem a companhia de Spencer. Eu gostava quando Josué, antigo gerente da Embrafilme que também já foi, me chamava de Celso Spencer.

Olinda, 24. 3. 14

* Celso Marconi Lins é jornalista e cineasta



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