terça-feira, 20 de outubro de 2015

Perco-me nos meus pensamentos dialéticos


* Por Eduardo Oliveira Freire


Quando soube que uma obra de arte (“Desenhando em terços”, de Márcia X) foi censurada na exposição “ERÓTICA”, no CCBB, achei besteira à primeira vista. Só porque a artista desenhou pênis com terços. Mas depois, me lembrei que não concordei que um jornal europeu publicou a imagem de Maomé – para os mulçumanos, isso é uma blasfêmia – e sempre achei que eles eram injustiçados pelo ocidente. Logo, senti que estava sendo contraditório. Mas o ser humano não deixa de ser ambíguo.

O que é liberdade de expressão? Ela não muda de acordo com pontos de vistas diferentes? Atualmente acho tudo tão complicado.

Quando eu fui à exposição, vi várias manifestações, desde artefatos das civilizações antigas, que representavam significados holísticos a manifestações artísticas de vários estilos. Então, se colocasse um quadro em que mostrasse um fetiche masoquista, um nazista violentando uma judia, não chocaria? Eu ficaria horrorizado. Mas não é uma representação artística? Muitas pessoas não sentem prazer na dor?. Erotismo não mexe com os sentidos e sensações?

Já ouvi dizer que há homens que pedem para suas mulheres se vestirem de meninas e os chamarem de paizinho. E se um artista desejasse expressar essa fantasia, fazendo um quadro de um homem com uma boneca no colo, será que poderia agredir alguém? Quando não são nossos valores, viva a liberdade de expressão. Agora, quando mexe nos que acreditamos, muda-se de figura?

Por outro lado, muitos são adeptos da arte pela arte. Ela tem que ser livre, não tem que ter restrições sociais, econômicas e políticas.  Oscar Wilde era adepto dessa idéia e no seu livro O RETRATO DE DORIAN GRAY discutia sobre o que era a sua concepção de arte. No ensaio A ALMA DO HOMEM SOBE O SOCIALISMO, o autor discutiu a liberdade e as repressões contra esta. “(...) não há necessidade alguma de separar o monarca da plebe: toda autoridade é igualmente má. Há três espécies de déspota. Há o que tiraniza o corpo. Há o que tiraniza a alma. Há o que tiraniza o corpo e a alma. O primeiro chama-se Príncipe. O segundo chama-se Papa. O terceiro chama-se Povo.”.  Ele almejava a liberdade plena, sem que ninguém a restringisse.

Contudo, não precisa haver limites, para que cada um respeite o espaço do outro? Quanto mais penso, não consigo ter uma opinião, e sim mais dúvidas. Leio artigos e opiniões sobre a censura do quadro da exposição erótica e minha cabecinha fica embaralhada com tanta informação. Não sei o que escrever. Aí me perguntam: por que escreve então? Leia mais. Mas, preciso colocar na tela do computador. É uma forma de organizar o caos da minha mente.

O artista muitas vezes não está à frente do seu tempo? Vladimir Nabokov, quando escreveu Lolita, escandalizou muitas pessoas na época. Apesar de contar a “história de um pedófilo”, o livro faz uma crítica sarcástica e impiedosa da sociedade, da sociedade americana de consumo e da hipocrisia da época. O escritor foi transgressor. O papel da arte não é esse? Construir visões críticas e reflexivas sobre o mundo em que vivemos? Escrevi duas histórias que poderiam ofender também. Mas não posso escrever simplesmente, tenho que pensar que talvez possa ofender alguém. O que fazer? Sinto-me tão contraditório, que me perco nos meus pensamentos dialéticos.

* Eduardo Oliveira Freire é formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense, está cursando Pós Graduação em Jornalismo Cultural na Estácio de Sá e é aspirante a escritor

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