sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Primeiro romance da “trilogia essencial” de Modiano


A Editora Record – a exemplo do que fez a Rocco – tão logo foi anunciado, em outubro de 2014, que o escritor francês, Patrick Modiano, havia conquistado o Prêmio Nobel de Literatura do ano passado, apressou-se em trazer para o público brasileiro várias obras desse “astro” das letras mundiais, até então pouco conhecido entre nós. Adquiriu, na Feira de Frankfurt, na Alemanha, os direitos para o lançamento de três livros desse romancista no Brasil: “Remissão da pena”, publicado na França em 1988; “Flores da ruína”, de 1991 e “Primavera de cão”, datado de 1993 que já estão nas prateleiras das boas livrarias do País.

São três obras independentes, distintas, mas que, todavia, formam uma unidade: a “trilogia essencial” de toda obra de Modiano. Como a imensa maioria dos seus romances, as narrativas são feitas em poucas páginas (não chegam a 150) e guardam a mesma linha temática da maioria de seus livros, ou seja, memórias do período de ocupação da França por parte das tropas nazistas, durante a Segunda Guerra Mundial e durante o período imediatamente posterior à libertação do país.

O leitor certamente tem estranhado minha insistência em comentar tantas publicações de um único escritor, o que nunca antes eu fiz. Vários já me fizeram essa observação, embora sem criticar minha opção. Afinal, estou sendo, no mínimo, coerente. Se em menos de um ano, duas grandes editoras lançaram sete livros de Modiano, é porque ele tem algo de especial a apresentar. Ninguém arriscaria tanto dinheiro em produtos que não tivessem potencial de retorno. E os livros de Modiano têm. Mas este é apenas um dos motivos da minha insistência. Outro é o fato de eu jamais ter tido acesso a tantas obras de um único ganhador de Nobel. É, pois, oportunidade rara que tenho e que não vou desperdiçar. Há outros motivos ainda, e não menos relevantes. Um deles é que estamos a uma semana, ou pouco mais, do anúncio de novo ganhador do Nobel de Literatura e, por isso, é oportuno manter o assunto em evidência (por sua óbvia importância literária). Nos primeiros dias de outubro saberemos quem vai ser o sucessor de Patrick Modiano. Quem será? Vai ser, finalmente, um brasileiro? Será algum dos eternos favoritos até aqui preteridos? Logo saberemos.

Um dos livros da “trilogia essencial” do originalíssimo escritor francês é “Flores da ruína”. Trata-se de um volume relativamente pequeno, de 144 páginas, recheadas de memórias e de reflexões. Como na maioria dos seus romances, a trama é relatada por um narrador na primeira pessoa, sugerindo que se trate do próprio Modiano. Ademais, fica difícil de distinguir o que é real, o que é acontecido, o que é, enfim, autobiográfico do que não passa de mera ficção. A narrativa é um pouco dos dois. O foco central é o suicídio de um jovem casal. O autor apresenta, metodicamente, as circunstâncias que levou os dois a darem cabo da vida, entremeando, às investigações, memórias pessoais, que aparentemente nada têm a ver com as mortes, mas... só aparentemente.

Óbvio que não irei revelar o cerne da trama e muito menos seu desfecho, já que estas considerações não se propõem a ser sinopse do livro, mas comentários à margem sobre a impressão que o autor deixou em meu espírito. Aprecio, sobremaneira, a beleza, a elegância e a agudeza da narrativa de Modiano, na abordagem de tema tão delicado. Há páginas e mais páginas que classifico como verdadeiros poemas em prosa, tal a delicadeza que contêm. Apesar do autor muitas vezes me confundir, ao misturar fatos e ficção, acho válida e oportuna essa estratégia, que me força a prestar atenção dobrada na leitura, muito maior do que os romances convencionais, nos quais conta mais (quando não exclusivamente) a ação do que aquilo que a determina e as conseqüências que ela traz. Afinal, não é qualquer um que se mantém fiel a um mesmo e único tema, ao longo de uma já longa carreira, sem, todavia, ser repetitivo, monótono e óbvio.

Boa Leitura.


O Editor.

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Um comentário:

  1. Talvez o autor queira um dia fazer uma coleção, ou um grosso livro, sendo cada volume transformado num capítulo de um calhamaço.

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