quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Estações Musicais na Unimontes – Noite Espanhola

* Por Mara Narciso


A magnitude daquela Noite Espanhola nem de longe poderá ser definida em palavras. Não por minhas palavras, frágeis, imprecisas, titubeantes, fazendo oposição à segurança e exatidão dos artistas em cena. Para entrar no Espaço OAB e ver esse concerto, tire os sapatos, concentre-se e tenha a certeza de encontrar a felicidade. Diante do que acontece no palco, os sons, o figurino, a imagem, o movimento, apresentação que todo brasileiro deveria ver pelo menos uma vez na vida, é preciso segurar a emoção. A platéia de 650 pessoas, entre muda e extasiada concentrava-se em cada nota musical, seja dos instrumentos, seja das vozes, atenta a cada gesto dos que tocavam, cantavam ou do casal que dançava.

No dia 17 de setembro aconteceu o Concerto Noite Espanhola, protagonizado por Talitha Peres ao piano e Elisa Pires na dança. A mestra pianista Talitha Peres, idealizadora e diretora artística e musical, foi exata como em apresentações anteriores. Dedicou o concerto a Pedro Arnaldo Peres e Marília Peres, ambos falecidos, e que, certamente estariam ali para prestigiá-los na primeira fila. Casa lotada e pequena para todos que precisavam ver, o programa constou de formidável elenco musical, instrumental, vocal, baile, iluminação e coreografia.

Foram doze momentos de deleite. Para alguém como eu, que creio no poder da arte para domar e civilizar pessoas, procurei não perder os detalhes. Aquilo que se deu em cena hipnotizou e transformou o público. Poucos filmavam ou tiravam fotos esparsas. Nenhum celular tocou. Estamos nos educando. O espanhol Diego Zarcon cantou, bailou e coreografou divinamente. Ganhou seu espaço e conquistou o público numa cena em que dois ícones montes-clarenses estavam no palco. Fácil não é, mas o dançarino fez um papel bonito arrancando exclamações da platéia com a virilidade e força da sua dança.

Juliana Peres parece ter descido do céu para o palco. Sem escalas. Bonita num belo vestido, a soprano não parecia acompanhada pelo piano da sua mãe, mas de harpas celestiais, pela forma em que se deu a empatia com o público. É talento inteiro. A música atinge o cérebro e modifica quem ouve. O som daquela hora produziu um efeito de quase levitação. Coisa de anjos. Atingir esse estado de prazer com arte dispensa qualquer droga, lícita ou ilícita. Naturalmente o sorriso brota. Estando ao alcance de tal qualidade de música, quem precisa de drogas?

Daniel Novais teve seu momento solo ao violão e Fábio Nin empunhou com charme a sua guitarra flamenca. As vozes de Patrícia Peres, Daniel Marcelo, Simone Santana, Juliana Peres, Daniele Dourado e Thalita Gomes, em solo ou em conjunto, ecoaram pelo auditório. Mas quem ocupou o centro do palco de forma brilhante foi a talentosa e resistente bailarina Elisa Pires. Bonita, habilidosa, meiga, atenta à técnica, mostrou uma agilidade que impressiona. Trocou de figurino diversas vezes, e a cada troca, mais crescia sobre o palco, que usava de ponta a ponta, mostrando veia dramática, força e rapidez numa coreografia impetuosa, que calava a platéia, levando a empolgação a cada final.

Elisa Pires tem estilo para dançar e coreografar. Pele alva, destacada pelos refletores, corpo fino de puro equilíbrio, graciosa em cores vivas e muitos babados, cabelos num coque, sapateava em velocidade de vertigem. Matraqueando com os dedos, cujo som era ouvido em todo o território, empunhando castanholas num movimento de ritmo e delicadeza, batendo os pés no chão com invejável graça, gritando olé, batendo palmas ritmadas, girando o corpo, dançando com o xale, com o leque, ou com Diego Zarcon, Elisa Pires é rainha, mesmo analisada sob vários parâmetros.

A crescente vibração dos artistas foi acontecendo música a música, dança a dança, passo a passo, traje a traje, e na apresentação final, Elisa Pires entrou de cabelos soltos, como se aquela nova aparência fosse o anteclímax. Pela visão das pessoas aplaudindo de pé, cheias de energia, podia-se medir a transformação acontecida. A euforia da platéia dá a dimensão do que vocês fizeram aqui, disse à Elisa Pires, quando fui levar-lhe meu abraço. Emocionada, ela falou que o público montes-clarense era carinhoso. Diego Zarcon afirmou que se sentia gratificado pela reação do povo de Montes Claros, que fez toda a diferença. Então, as Estações Musicais respeitam você e sua sensibilidade. E que continuem reaparecendo e alterando nossos sentimento e comportamento, para deixarmos de lado o nosso instinto de feras. É festa, é festa! Precisamos disso para ser bons.



*Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”   



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