domingo, 27 de setembro de 2015

Era...


* Por Emanuel Medeiros Vieira

(Narrativa da esperança)

(OUVINDO “JESUS, ALEGRIA DOS HOMENS”, DE JOHANN SEBASTIAN BACH)

PARA CLARICE E PARA LUCAS – E PARA AS CRIANÇAS DO BRASIL

“Opte por aquilo que faz o seu coração vibrar. Apesar de todas as consequências”.                                      (Osho – 1931–1990)


Era tudo ao contrário.

Seria tudo melhor?

O Sagrado estava no mundo,

e andávamos todos sem medo.

Não, não há bichos pré-históricos,

Nem história há.

Mas não havia matanças, obuses, morteiros pernas arrebentadas, a cobiça maior, tantas guerras- – o poder é tudo.

(Eu sei: sempre houve. Mas preciso “mentir” para ser “sincero” no que escrevo.)

Reservo-me ao direito de por hoje – só por hoje – de ser ingênuo.

E de repactuar-me comigo mesmo, com os outros, com o cosmos.

(Tudo anda tudo tão melancolicamente grave e desgraçado. Mas abraçamos a vida – intensamente.)

Eu sei: vivemos numa época de absoluta regressão ética.)

O mundo era outro, havia risos – era tudo sonho.

“Saudosista – dizes que tudo era melhor porque já passou”, adverte-me um promotor interno.

Hoje não, por favor: nada de  narrativas estilhaçadas – quando todo mundo morre no final.

Um piquenique, campinhos de futebol, praias limpas, morros onde podíamos andar à noite,

E o melhor de tudo: não tínhamos medo.

Ou não? Não sei. Sim: tínhamos outros medos.

Termino com Carl Gustav Jung (1875–1961): “O sentido torna suportável uma grande parte das coisas – talvez tudo. Ele nos conecta com a realidade, inunda as trevas com luz e nos faz atravessar o sofrimento.”

(Salvador, junho de 2015)


* Romancista, contista, novelista e poeta catarinense, residente em Brasília, autor de livros como “Olhos azuis – ao sul do efêmero”, “Cerrado desterro”, “Meus mortos caminham comigo nos domingos de verão”, “Metônia” e “O homem que não amava simpósios”, entre outros. 


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