terça-feira, 25 de agosto de 2015

Carta ao Aleph


* Por Luiz Augusto Cassas


(ou a segunda luta de Jacó contra o Anjo)


por que me ofertas mãos de seda
a tantas mãos renegadas
e a meus dedos se tornam espadas
despencando-me à treva?

por que me acenas caminhos
se carregas as mãos crispadas
e colho a marca dos espinhos
das plantas secas na estrada?

por que me cobras o dízimo
por ter as mãos espalmadas
se o território do vazio
é a palmatória do nada?

por que me concedes a trégua
de repousar em tuas águas
passageiro de mil léguas
afoga-me em vale de lágrimas?

por que me obrigas a voar
de retorno à tua morada
se me interpões o mar
e a inexistência de asas?

que estranha missão reservas
aos dependurados dos pés
_ inversas as bocas mãos de viés _
mastigar ervas amargas?

qual o meu crime hediondo
senão viver da vida o sonho?
vale o céu o dia de hoje:
o sol a luz não me soube!

toma as formas do humano
e a luz precipitará
ã leitura dos meridianos
nova dimensão do olhar!

posto que retornas à cena
ferindo-me a coxa em refrão
sentirás a dor eterna
lançando-te ao chão com o bastão!

confrontando ao tronco a árvore
vergado o galho na mão
à alma tocada a carne
abras (enfim) o coração


In A Poesia Sou Eu, vol. 2, p.379

* Poeta maranhense


Nenhum comentário:

Postar um comentário