terça-feira, 28 de julho de 2015

Evangelho


* Por Emanuel Medeiros Vieira



“Vivemos em plena cultura da aparência: o contrato de casamento importa mais que o amor, o funeral mais que o morto, as roupas mais do que o corpo e a missa mais do que Deus”. (Eduardo Galeano)



Missa, Missão, Missal

Luto (Perda e Resistência)

Jogo de palavras.

O tempo como obsessão, tudo é midiático, se evapora – nada perdura.

Nada?

Filosofemos sobre o Nada.

Cruzada Eucarística, Congregação Mariana, Ação Popular (AP),

tortura, processo – ir para longe.

Era outro o teu evangelho.

Que fazer com tanto cupim na memória?  Naftalina não basta;

O médico olha para uma ressonância magnética (ou tomografia?), e informa com (simulada?) indiferença:

“Há um tumor”.

Receitas, papéis, exames, uma manhã qualquer do século XXI.

Só no táxi entendes – o que fazer com tudo isso?

Será um lugar-comum – aviso: é preciso persistir: em cada canto da casa, no sótão, como travasse uma guerrilha interior. São outros demônios.

Redação escolar, um parreiral, papai discursando, presépio, peru de natal

E o menino inunda o velho – um mar agora aterrado, outra ilha, pipa, bolinha de gude.

“Evita o sentimentalismo”, exijo.

Todo mundo estava vivo.

Sim, todo mundo estava vivo.

(Salvador, julho de 2015)

* Romancista, contista, novelista e poeta catarinense, residente em Brasília, autor de livros como “Olhos azuis – ao sul do efêmero”, “Cerrado desterro”, “Meus mortos caminham comigo nos domingos de verão”, “Metônia” e “O homem que não amava simpósios”, entre outros. 



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