sexta-feira, 26 de junho de 2015

O detalhe aquático

* Por Rodrigo Ramazzini


O Norberto, ou o “Nóia”, como fora cognominado por seus amigos, tinha como hobby a pescaria. Sempre aos finais de semana, tirava algumas horas para se dar tal regalia. Era para “relaxar”, como sempre ressaltava. Naquele final de semana, mais precisamente de sexta-feira para sábado, ele iria pescar no açude dos Mouras, lá no Cerro dos Abreus, 70 quilômetros de distância da sua casa. Isso fora o que dissera para a esposa, mas a bem da verdade, ele fora passar a noite em um motel, com a sua primeira amante.

Norberto pegou todos os apetrechos que uma boa pescaria exige, o seu velho casaco, a cachacinha para aquecer-se ao gélido ar da madruga, despediu-se da esposa e partiu. A esposa habituada com as pescarias do Nóia, nem se importara com mais essa, afinal, ela era apreciadora e conhecedora da arte de cozinhar um pescado. Na saída, ainda gritara:

- Traz uns peixes bem grandes, pois os faremos no almoço de sábado...

O Norberto saíra de casa na sexta-feira, por volta das 18h00min, e prometera voltar no sábado, perto da 09h00min da manhã. Partira de casa e fora direto para a residência da amante, pegou-a, e rumou para o motel. O sono “anestésico” que sentimos após o ato sexual atingira também o Nóia, que acordara às 09h00min da manhã, com a faxineira batendo à porta. Despertara a amante, vestira-se o mais rápido possível, pagara o motel, largara-a em casa, sob o apreciar dos vizinhos, olhara o relógio, marcava 10h30min, parecia “andar” mais rápido que o normal, estava nervoso, suava frio, partira para a peixaria, furara a fila, pegara o primeiro peixe que encontrara, resfolegara pela última vez, e enfim, às 11h15min, abrira a porta de casa.

- Bonito, seu Norberto! Isso são horas?
- Pois é, Nega (Assim ele chamava a esposa).
- Aonde tu andavas?
- Fiquei pescando até mais tarde, começou a dar Mussum por volta das 08h00min, aí resolvi ficar... E... E... Já aproveitei para limpar os peixes, isso!

Um ar álgido parecia ter transcorrido todo o corpo de Norberto, arrepiou-se, perguntou-se sufocadamente, com a garganta seca: - Será que eu comprei Mussum? E se ela perguntar? Refletiu... Não se lembrara, mas diria que os que pescara eram pequenos, e soltara. A esposa do Nóia desconfiara, Norberto estava com uma cara de quem dormira maravilhosamente bem, mas não comentara, apenas o indagara:

- Alcança-me a sacola com os peixes? Obrigado! Conseguiu pescar no tal açude dos Mouras?
- Consegui! Tu tinhas que ver como é grande...
- É... Retorquiu a esposa, soerguendo as sobrancelhas, olhando dentro da sacola de peixes.
- O que foi? Replicou o Norberto.
E ela redargüiu:
- Esse açude é dos bons mesmo... Dá até Tainha!


* Jornalista e contista gaúcho

Um comentário:

  1. É preciso tempo para inventar uma boa história, para mentir bem. No acelerado dos fatos, acabou cometendo um erro crasso.

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