segunda-feira, 25 de maio de 2015

Rendição


* Por Núbia Araujo Nonato do Amaral


Hoje, ando com o vagar das
lavadeiras e suas trouxas
apinhadas  de roupas.
O sabão está nas pontas
o dinheiro foi pouco e não deu
pra comprar.
O tempo embora cinzento
deixou aberta uma pequena
fresta para o sol escapulir.
No sorriso da negra de ancas
enormes sigo na cadência de
seu corpo cheio de vida e de seus
olhos negros cheios de esperanças.
A negra de dedos grossos e mãos
calejadas me sorri e diz:
- Deixa a roupa pra mim galega,
deixa os queixumes pra quem já
desistiu.
Espalha estas tuas letras bonitas
pra quem tem olhos de ver e ouvido
de escutar.
Espalha o rastro que Deus marcou
em você que nem ferro em brasa.
E um dia me devolva o abraço
em forma de poesia.

 * Poetisa, contista, cronista e colunista do Literário


Um comentário:

  1. No nordeste, galega significa loira. Aqui vem para diferenciar as castas, a trabalhadora braçal e a trabalhadora intelectual. Nem imagino o que seria uma vida dessas.

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