quarta-feira, 20 de maio de 2015

Dikson Colombo


* Por Urda Alice Klueger


O Dikson entrou na minha vida em 1998, quando me tornei uma editora, mas eu entrara na vida dele bem antes, embora sequer o conhecesse. Dikson tinha uma livraria na cidade de Rio do Sul/SC, e era um idealista da Literatura – assim, andava para cima e para baixo com o carro cheio de livros, semeando idéias e sensibilidades pelo Alto Vale do Itajaí e por onde mais passasse, e há muito que meus livros viajavam no seu carro e moravam na sua loja. Mas só soube da sua existência em 1998, quando me soube editora e fez um primeiro contato comigo, quase que o primeiro cliente que tive, afável e aberto a qualquer tipo de negócio que envolvesse a boa Literatura e que pudesse levar Cultura e Sonhos para os outros.

No começo, só nos conhecíamos por telefone – um dia estive na loja dele e fiquei bem encantada com a sua simpatia, seu charme natural e sua bela figura de homem. Penso que tínhamos, mais ou menos, a mesma idade, e nos anos seguintes, estivemos sempre a fazer negócios com livros, e Dikson era daqueles clientes que fazia questão de nunca atrasar um prazo – ao contrário, não podia ver uma promissória sem correr a pagá-la, mesmo que houvesse quase um mês, ainda, para fazê-lo, marca bem sua.

Faz cerca de um ano e meio, creio, quem sabe dois, que estive com o Dikson pela última vez. Sentamo-nos lá na sua livraria, fizemos grandes planos. Ele projetava fazer uma caixa de livros que reunisse o que de melhor houvesse em Literatura, para espalhar pelas minúsculas cidades de Santa Catarina, para as pequenas bibliotecas locais terem acesso ao melhor. Embarquei no sonho dele na hora, virei consultora, prometi-lhe pensar sobre o que não poderia ficar de fora, para que a tal “caixa” tivesse a excelência que o povo merecia. Não importaria a procedência, a editora das obras – importava o conteúdo. Dikson estava bonito e simpático como sempre, o peito aquecido de Sonhos, os olhos faiscantes de Futuro, a visão alongada para tudo o que se poderia fazer.

E voltei para Blumenau, e fiquei a lhe passar correios eletrônicos a cada vez que pensava em coisas insubstituíveis na cultura do nosso povo:

“Dikson, não podemos esquecer os relatos dos viajantes que passaram por Santa Catarina nos séculos XVIII e XIX!”

Noutro dia:

“Dikson, não podemos esquecer de `Memórias de um menino pobre`, do seu Silveira Júnior!”

E assim por diante.

Então, de repente passei a perceber que o nosso projeto não estava andando. Alguma coisa estava errada. Dikson não era de deixar as coisas pela metade. E já era fim de 2006 quando me disseram que ele estava doente.

Viajei, na virada do ano, estive em férias até metade de janeiro, não deu tempo de pensar no Dikson. Voltei a trabalhar no dia 16 de janeiro – e voltei, de repente, ansiosamente angustiada, querendo saber como ele estava. Mal começáramos a trabalhar, naquela tarde, e eu disse a Marcelo, meu secretário, o quanto queria saber do Dikson. E telefonei para a loja dele, uma vez, duas, muitas vezes, e ninguém respondeu. Então disse para o Marcelo que decerto as férias deles eram um pouco mais longas, que reabririam a loja um pouco mais adiante.

E um dia se emendou no outro e continuei pensando no assunto – até que em algum momento acabei falando com alguém da família dele. Foi ainda em janeiro.

- O Dikson? Nós o enterramos na tarde do dia 16.Ainda não conseguimos nos conformar.

Aí entendi porque o telefone da loja não tinha atendido naquela tarde. Não sabia que Dikson era alguém tão próximo do meu coração para eu ter tido aquele tipo de percepção. Pessoas especiais são assim.

Boa viagem, meu amigo Dikson, tão belo e tão jovem, o Sonhador da Cultura! Que aí do outro lado tudo esteja indo bem para você!

(Florianópolis, dia 02 de Junho de 2007)

* Escritora de Blumenau/SC, historiadora e doutoranda em Geografia pela UFPR, autora de mais três dezenas de livros, entre os quais os romances “Verde Vale” (dez edições) e “No tempo das tangerinas” (12 edições).



Um comentário:

  1. "Como assim morreu?" Pois é, Urda. Os amigos continuam com essa mania de morrer e sem se despedir. Conosco será da mesma maneira. Desaparecemos, e depois virá a notícia da morte. Tão doces e fugazes amizades que nos deixam saudade.

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