terça-feira, 21 de abril de 2015

O esportista vereador


*Por Mouzar Benedito


O massagista Mário Américo, nascido em Minas Gerais, ganhou fama na Copa Mundial de futebol de 1958. Cada vez que algum atleta brasileiro se machucava, entrava em campo aquele crioulão simpático, para socorrer nossos heróis Garrincha, Didi, Nilton Santos, Pelé…

Perto do final do regime militar, quando só existiam dois partidos legalizados, a Arena (a favor do governo) e o MDB (oposição consentida, que às vezes se levava a sério), Mário Américo se candidatou a vereador pelo MDB em São Paulo. Sua campanha foi mais baseada nas mãos que massagearam os ídolos do futebol do que nas idéias que o massagista tinha na cabeça, mas deu certo. Ele ganhou. E até não decepcionava muito como vereador, apresentando projetos criados pela assessoria do MDB.

Mas aí veio a reformulação partidária, quando Arena virou PDS. MDB virou PMDB e surgiram PT, PDT e PTB. Mário Américo, como alguns outros políticos, foi cooptado por Paulo Maluf, que liderava os simpatizantes do regime militar em São Paulo. Então, em vez de ir para o PMDB, Mário Américo foi para o PDS malufista.

Aí, chegou à fase de votação em plenário de um projeto apresentado à Câmara de Vereadores pelo próprio Mário Américo, quando era oposicionista. Mas ele recebeu ordens dos seus novos aliados: tinha que votar contra, pois o projeto desagradava o prefeito nomeado, Reynaldo de Barros, e seu padrinho, Paulo Maluf. E aconteceu a aberração: Mário Américo votou contra um projeto dele mesmo. Foi desancado por um vereador do PMDB, que fez um discurso violento contra o massagista, supostamente “comprado” por Paulo Maluf. Depois de ouvir um monte de adjetivos pouco edificantes, Mário Américo pediu um aparte e falou bravo, com dedo em riste:

— Vossa Excelência está ofendendo a minha excelência!


* Jornalista

Nenhum comentário:

Postar um comentário