quarta-feira, 22 de abril de 2015

Eu cuido da saúde em primeiro lugar


* Por Mara Narciso


Quem não gosta de ir ao médico, precisa experimentar o prazer de um exame negativo. A pessoa vem tendo um sintoma, que a incomoda bem, e dura alguns dias. Vai ao médico, cheia de preocupação. Como a consulta tem efeito terapêutico, o sintoma vai se acalmando, e o melhor, os exames solicitados mostram que o problema passou. Não foi nada. Tal medo não escolhe idade. Crianças também temem pelo pior. Num momento assim, nada como um médico solidário, interessado, sem pressa, para acolher, explicar, alertar e acalmar.

Mulheres reclamam de ser submetidas ao exame de mamografia anualmente. Dizem que dói, porque aperta demais. Ser submetida a esse tipo de tortura medieval não é nada. O ruim é aguardar o resultado. Imagino que todas devem se sentir apertadas na hora de abrir o laudo. E caso venha positivo, reunir forças para enfrentar o tratamento convencional, longo e doloroso.

São comuns as queixas de pacientes sobre médicos nervosos, apressados, e algumas vezes até grosseiros, dando respostas ríspidas. Educação cabe em todos os tempos e lugares. A experiência traz maturidade e calma, mesmo diante de provocações. É preciso chamar o doente à responsabilidade de forma respeitosa, coisa que alguns médicos não conseguem fazer. É bom que a medicina sirva, sem escravizar. Trata-se para viver, e seguir vivendo, apavorado com a doença, não vale a pena. É preciso sabedoria para lidar com ela, e o melhor caminho para tal é através de bons médicos.

A razão pode ampliar ou reduzir os sintomas. Depende de como a pessoa lida com o racional. Nesse ponto, entram em cena a fé ou a psicanálise com seus incontáveis benefícios. Nem o mais cético dos médicos, eu incluída, desconhece o poder da fé. Em 35 anos de medicina vi múltiplos episódios inexplicáveis pela ciência. Pessoas em condições semelhantes sejam físicas ou financeiras, e com a mesma doença, apresentaram passo a passo evoluções disparatadas, algumas vezes opostas. Em busca de explicação, pensa-se no poder da mente e na confiança, seja na medicina, seja na religião.

Quando a medicina não pode resolver, as pessoas procuram caminhos alternativos. A Rede Bandeirantes de Televisão apresentou em abril uma série de reportagens sobre os aspectos da fé, interferindo no binômio saúde/doença. Impressiona a peregrinação de gente do mundo inteiro à pequena cidade goiana de Abadiânia, local onde reside o fazendeiro de pouca instrução, João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus, que executa milagres através da incorporação de espíritos de médicos. Ele tem 72 anos, e opera pessoas com ou sem cortes. Tudo é feito à vista de todos, sem cuidados com esterilização ou anestesia. O que é visto causa impacto até no mais descrente dos descrentes.

O operado em público não sente dor, a ferida se fecha instantaneamente, e não há infecções. Pessoas cegas voltam a enxergar e paraplégicos voltam a andar. E na frente de todo mundo. Aqueles que se sentem curados, voltam para prestar serviços à comunidade. Médicos acompanham os trabalhos. Ainda que o exercício ilegal da medicina seja crime no Brasil e seus praticantes são chamados de charlatães, tais procedimentos seguem seu curso, sem ser importunados, e fazendo bem à maioria das pessoas.

Segundo a Wikepédia, foram tratados por João de Deus: Luiz Inácio Lula da Silva, Chico Anysio, Maria da Graça Xuxa Meneghel, Marcos Frota, Hugo Chavez, Bill Clinton, Wayne Dyer e Shirley McLaine. O médium ficou famoso após ser entrevistado por Oprah Winfrey. Li sobre doentes que abandonaram a medicina tradicional, fizeram tratamentos alternativos e morreram. Boa parte deles já estava, na época, “desenganados” pela medicina, com doença incontrolável pelos meios habituais, e se enveredaram por searas não tradicionais. O mais inexplicável é que, depois de buscarem curas espirituais, receberam o milagre.         

Melhor não tentar explicar o que não conseguimos entender. Sugere-se que não sejam abandonados os tratamentos convencionais e os alternativos devam ser usados como complemento. Vê-se que a fé remove doenças, inclusive graves e incuráveis. As curas aconteceram à frente de todos, ainda que alguns continuem duvidando dos seus próprios olhos.

*Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”    


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