sexta-feira, 27 de março de 2015

O prostíbulo


* Por Rodrigo Ramazzini



Oliveira parou o carro em frente ao prédio e conferiu o nome nos letreiros luminosos. Estava no lugar correto. Desceu do veículo, cumprimentou o segurança que estava parado na porta e ingressou no local. Uma única luz néon azul iluminava o abafado ambiente. Era um recinto pequeno, com algumas mesas distribuídas. A música saia de duas caixas de som que estavam no chão. Havia, ainda, à direita, uma copa, um banheiro e uma porta entreaberta, que levava para um longo e fino corredor.

Dois casais dançavam no centro do salão. No canto esquerdo, um alemão, sem camisa, ria e tomava cerveja. enquanto uma mulata lhe fazia um strip-tease. Ainda neste canto, uma loira, de cabelos lisos, já sem as vestes superiores, sentada no colo de um outro homem, beijava-o ardentemente. À frente, um casal apenas conversava, enquanto as outras meninas “disponíveis” sentavam-se alinhadas para que Oliveira escolhesse uma, como se fossem produtos.

Oliveira visualizou as meninas e escolheu a que lhe pareceu ser a mais nova. Uma moreninha de cabelos cacheados e olhos verdes. Vestia uma saia preta e uma blusa branca, com os botões superiores abertos, deixando à mostra os pequenos seios. Chamava-se Fabrícia e era de uma cidade vizinha, segundo depois contou.

Sentaram-se, lado a lado, e feitas as apresentações, ela foi buscar uma cerveja. A conversa começou a fluir naturalmente. Oliveira, curioso por natureza, interessou-se pela história de vida de Fabrícia e “tocou-se” a questioná-la. Ela, já sentindo as primeiras conseqüências do álcool, foi ficando desinibida, e narrando cada novo episódio com mais detalhes.

Fazia dois meses que estava “trabalhando” no lugar. Fora trazida por uma amiga. Quando perguntada por Oliveira o motivo, na primeira vez respondeu: “Por curiosidade!” Mas depois, com a intimidade aumentada, abriu o jogo. Era a mais velha de um total de quatros filhos.

O pai trabalhava colhendo frutas em uma fazenda. Ganhava pouco mais de um salário-mínimo, o que lhes proporcionava uma vida difícil, visto que a mãe não trabalhava. Entrou no ramo para ganhar o seu próprio dinheiro. Havia procurado emprego em locais sérios, como classificou, mas não achara. Sonhava em se vestir como as atrizes da televisão, com roupas da moda, de grife, e freqüentar os lugares mais badalados. Queria ser modelo ou atriz. Repetia: “Quero ser famosa. Aparecer na TV!”

O tomar cerveja acontecia na velocidade do bate-papo. Entre os vários copos, e um assunto e outro, a confiança de Fabrícia em Oliveira foi aumentando. Oliveira julgou, então, que poderia avançar nos seus questionamentos e atos. Pegou pela primeira vez na mão de Fabrícia, sentindo o frescor de sua pele nova. Ela sorriu e beijou-lhe a face como retorno pela carícia.

Oliveira perguntou-lhe: “Quanto é o programa?” Para sua surpresa, Fabrícia esquivou-se. Respondeu que não fazia programa, que apenas acompanhava os clientes enquanto eles tomavam cerveja, e isso lhe proporcionava ganhar um valor em cima de cada unidade ingerida. Oliveira não se convenceu. Trocou de assunto momentaneamente e deixou-a tomar mais alguns goles de cerveja.

Decorrido algum tempo, sentindo-a mais desinibida e confiante, ele retornou: “Com quantos homens você já transou por dinheiro?” Ela, caindo em contradição, replicou: “Desde que comecei aqui, uns oito, eu acho”. “Ah é!”, exclamou Oliveira, soerguendo as sobrancelhas. Fabrícia, começando a “enrolar a língua”, tarifa: “Cobro R$ 150,00 por programa”.

Dito o valor, Oliveira sentou-se mais próximo de Fabrícia, e elogiou-lhe a beleza física, passando-lhe a mão no cabelo. “Você é tão linda e nova, não deveria estar neste local”. Fabrícia exprimiu um “pois é!”, baixando a cabeça. “Quantos anos você tem?”, continuou Oliveira. Ela assustou-se com a pergunta, e “saltou”, afirmando: “Dezoito! Dezoito completos!” Ele, erguendo as mãos, pediu calma, mas duvidou. “Calma, Calma. Desculpa, mas você não tem dezoito... Ah, não tem mesmo!”.

“Quer ver a minha carteira de identidade?”, Fabrícia rebateu, pensando que o ameaçar de trazer um documento confirmaria a sua fala. Mas não, Oliveira pediu: “Deixa-me ver então?” Fabrícia silenciou por um momento, olhou para os lados e cochichou-lhe: “Na verdade, na verdade eu tenho quinze, mas é que dono do estabelecimento pede para nós falarmos que temos dezoito, para não dar problema”.

Neste instante, o telefone de Oliveira tocou. Ele pediu silencio a Fabrícia, apesar da música do ambiente. Atentou à ligação e, rapidamente, falou: “Está confirmado!” E desligou. Fabrícia, curiosamente, questionou: “Quem era?” Oliveira levantou-se, pegou-a pela mão, e respondeu: “Vamos, acabou!”

Um minuto depois, a Polícia estava no local para finalizar a operação...

* Jornalista e cronista

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