quinta-feira, 26 de março de 2015

O Salomão do futebol

* Por Mouzar Benedito


O time de futebol de Santa Rita Velha estava jogando na vizinha cidade de Presépio, contra seu tradicional adversário, o Presépio Sport Club. A bola, velha e meio torta, meio oval, não atrapalhava em nada a qualidade do jogo. Combinava bem com a forma de jogar dos dois times.

Aos quarenta minutos de jogo, a bola sobrou pingando para o centro-avante Cavadeira, de Santa Rita, que encheu o pé, chutou com toda força mas o goleiro estava bem colocado e pulou, agarrando a “redonda” no peito.

Acontece que a bola não resistiu. Ao bater no peito do goleiro, estourou, e ele ficou segurando só o capotão, enquanto a câmara de ar saltou para dentro do gol. Aí começou a discussão.

Os jogadores de Santa Rita começaram a comemorar, gritando que valia, era a câmara de ar, enquanto os de Presépio afirmavam que o capotão era que valia e este o goleiro pegou. Os 22 jogadores e mais os reservas falavam sem ninguém ouvir:

— O que vale é a câmara…

— Não foi gol não, o capotão não entrou…

Quando já estavam partindo pra briga foi que o juiz resolveu fazer valer sua autoridade:

— Prrriiii, prrriiii, prrriiii… — apitava alucinado para chamar a atenção dos jogadores, até que resolveram ouvi-lo.

— Quem entende de regra aqui sou eu. Eu é que sei o que vale e o que não vale.

— Então como é que é? É gol ou não é?

— Tá na regra: quando a câmara de ar entra e o capotão não entra, vale meio gol!

Foi o único jogo até hoje que terminou meio a zero.


Livro Serra, Mar e Bar



* Jornalista

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